27.1.13

O «racismozinho» do camarada Arménio



Não há desculpa possível para a afirmação estupidamente racista que Arménio Carlos terá feito ontem, no discurso de encerramento da manifestação dos professores. Referir-se a Selassie como o rei mago «escurinho» do FMI é , no mínimo, reles. A confirmar-se que foi mesmo assim, espero que a esquerda não se cale e não deixe para outros o direito à indignação (embora uma rápida pesquisa «googliana» me leve, para já, a temer que isso aconteça).

Já vi cair cabeças por muito menos. Mas, se já entrou algum pedido de demissão na sede da CGTP, ainda não foi comunicado à Lusa. 
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27 comments:

Septuagenário disse...

Diz-se "neguinho", "criouolinho",
"negão", "crioulão" no idioma de Chico Buarque, Bethânia...

A lingua portuguesa é muito rica!

Miguel disse...

Demissão, de que cargo? de secretário-geral da cgtp, do comité central do pcp, ou de ambos?
Abraço, Joana
miguel teotónio pereira

José Luiz Sarmento disse...

Em pratos limpos: a expressão não foi apenas infeliz, foi racista mesmo. Isto tira alguma legitimidade à CGTP para representar os seus associados e defender os trabalhadores em geral? Não tira. Reduz a necessidade premente de aumentar o poder dos sindicatos em Portugal? Não reduz. Constitui razão para que alguém não se sindicalize? Não constitui. Mas foi um tiro no pé de Arménio Carlos e um tiro no pé de todas as forças progressistas em Portugal.

André Albuquerque disse...

Fê-lo no meio de uma metáfora, comparando os 3 representates da Troika aos Reis Magos. DIzendo algo como: os 3 reis magos, um do BCE, outro da CE e até um mais escurinho, do FMI. Digamos que não foi feliz, é certo, mas não me parece que tenha sido mais do que um "lá está, 2 brancos e 1 negro, como os reis, metáfora certa".
É claro que haverá uma esquerda que não quer dar muito tempo de antena a isto, e haverá outra esquerda e a direita, que quererão tornar isto num Magosgate...
Essa outra esquerda vai ficar muito parecida com os deputados da direita na AR que frequentemente se mandam ao ar por não ser cumprido o regimento da AR quando alguém os chama de ladrões ou coisa que o valha...

Rogério G.V. Pereira disse...

o português de Portugal também não está mal:
preto, pretinho,
negro, negrinho,
escuro, escurinho...

se Camões viesse falar da troika, talvez tivéssemos agora mais uma palavra a juntar...

Joana Lopes disse...

Miguel, da cgtp: era como tal que falava. Não considero que o pedido de demissão tivesse de ser necessariamente aceite, mas o lugar devia ser posto à disposição.

Joana Lopes disse...

José L. Sarmento, 100% de acordo.

Joana Lopes disse...

André Albuquerque, benevolêcia e água benta cada qual toma a que quer...

Renato Teixeira disse...

Metáfora André Albuquerque?!? Tem a santa paciência!

José Freitas disse...

As raças existem. O nazismo é que tornou tabu este tema, porque a raça ariana não existe mesmo. Mas um indivíduo de um país como a Etiópia onde é «normal» muitas pessoas morrerem à fome, para subir na vida no FMI é, em princípio, um arrivista sem escrúpulos. Mas ele é ou não é escuro? As camisolas do Benfica não são vermelhas por ordem de Salazar. De que cor são não sei mas encarnadas é que não são. O conceito encarnado não se aplica à cor das camisolas do Benfica.

Anónimo disse...

Sois todos muitos inteligentes(queques), esta palavra deve ser racista, "inde pentear macacos".
O mundo não melhora com esta (vossa gente)-

RF disse...

Estive na manifestação. Atendendo à imagem alegórica do discurso, a interpretação que fiz das palavras do Arménio foi exactamente a que André Albuquerque apresenta acima. Não suspeitei nelas sombra de racismo... Talvez a Joana ache racista a utilização da palavra "sombra", por isso reformulo a fease: não encontrei a mais pálida conotação racista. Gosto deste bloque, que sigo diariamente. Todavia, repugna-me essa caça às bruxas que alguns, nomeadamente a autora do blogue, promovem em nome do "fascismo" do politicamente correcto (repare que usei aspas, não vá julgar que a chamei fascista...). Não se pode fazer piadas sobre a gravidez da Cristas, não se pode dizer que um homem negro é escurinho no contexto de uma comparação elaborada... Fanatismo é a palavra. Vá lá que não propôs a lapidação... É sempre triste quando pessoas inteligentes e perspicazes embarcam num primarismo persucutório.

Anónimo disse...

A blague do sr.Arménio Carlos é simplesmente inadmissivel. E que revela novamente em profundidade
o drama/caos- teórico e politico- em que está mergulhado o PCP. Em qualquer país minimamente civilizado e democrático,e aqui é que se situa o melindre da questão, o teor e o racismo destas expressões do sr. Arménio dariam lugar a uma celeuma homérica na praça pública e a um pedido de demissão sem remissão. Por óbvios motivos, claro. Trata-se de um acto contra-revolucionário sem perdão. Aguardemos pelos próximos capítulos. Niet

Joana Lopes disse...

RF,
Não vejo ao que vem aqui a palavra «fascismo», com ou sem aspas - não é o tema.
Uma pessoa com a responsabilidade de A. Carlos tem a obrigação de perceber que não pode brincar, em público e perante muitos milhares (+ milhões de teleespectadores), com uma questão tão séria como a problemática racista. Para além de ter feito uma comparação de mau gosto, foi populista, acordando o pior que há em muitos portugueses: uma xenofobia mansa, ainda herdeira de séculos de colonialismo.

Anónimo disse...

Já agora, e a despropósito, o que dizer da extraordinária exposição no museu do oriente de cartazes chineses, e portugueses, inspirados nos chineses...
Enfim, Mao, revolução cultural, milhões de mortos... chineses...
Se fossem cartazes inspirados na estética nazi?

Anónimo disse...

Facilmente explicado desta maneira:

"O comuna Arménio referiu-se ao representante do FMI como "rei mago escurinho". O engraçado é que isto só foi notado pelo Correio da Manhã. Tivesse sido alguém da direitinha e teríamos indignação generalizada na imprensa "de referência" (leia-se merdosa), comentários televisivos e a intervenção dos bandalhos do SOS Racismo. Assim, como foi um esquerdalhista a fazer o comentário, e como não existe pecado quando estamos nesse reino, não se passa nada."

http://acortenaaldeia.blogspot.pt

Jorge Conceição disse...

Como os biólogos e os antropólogos nos ensinaram desde os anos 30-40 do Século XX, actualmente apenas existe uma (1) raça humana, isto é, com as características genéticas e biológicas que as tornam diferentes, como acontece, por exemplo, com os cães e com os gatos. Essas outras raças de humanos já existiram, sim, mas em períodos anteriores à pré-história. Ou seja, a pigmentação da pele não difere mais que a diferença de cor dos olhos ou do cabelo, que o ser-se atarracado ou corpulento. Isto é, hoje o chamado racismo não tem qualquer objectividade. O que existe, abusando de tal designação, são atitudes preconceituosas contra o que é diferente a cada um de nós, ou, pior, a utilização de tais diferenças para populisticamente se arregimentarem vontades em favor de objectivos não confessados.

Por isso, se o fulano da CGTP está com preconceitos contra alguém, ou se está nessa onda populista, fora com ele!!! Já! Sem demora!

Mas mesmo muito importante, quanto a mim, é um candidato autárquico dizer: "eu acho que os jovens devem ser apoiados pelo estado, apoiar aqueles que tem aproveitamento, aqueles que nao têm aos 14 anos é mandá-los trabalhar". Aqui já não se trata de populismo fácil, mas de uma atitude política e social que vai contra tudo - lutas, conquistas, declarações universais, etc. - que o que foi construído ao longo dos últimos 150 anos, pelo menos.

José Luiz Sarmento disse...

José Freitas, está desactualizado em relação à ciência genética. As raças não existem mesmo. O que há, é estirpes, e a cor da pele nem sequer é o principal traço distintivo entre elas. Por exemplo: em termos genéticos, a estirpe mais semelhante à dos africanos pretos é a dos caucasianos brancos, e a mais diferente é a dos aborígenes australianos. Entre um destes e o Selassié a diferença genética é muito maior do que entre o Selassé e você.

José Luiz Sarmento disse...

Não tenho nada contra que a CGTP esteja ligada ao Partido Comunista. Há outra central, ligada a outros partidos, em que os sindicatos se podem filiar se os seus associados quiserem; e se não se quiserem filiar em nenhuma, nada os impede de se conservarem independentes.

Mas é precisamente por ser um alto responsável do Partido Comunista que Arménio Carlos não se pode dar ao luxo de usar metáforas ou de fazer humor usando uma linguagem adequada ao "Front National" ou ao "Aurora Dourada".

Transpor para o campo das diferenças étnicas ou nacionais um conflito que se joga no campo dos interesses de classe é precisamente o que estes partidos fazem. É para o que eles servem. Desviam as atenções do inimigo real para fazer pontaria a inimigos imaginários.

Joana Lopes disse...

Jorge, só agora é que ouvi a história do autarca...

karlos disse...

O JUMENTO: O Baltazar, os xulos e a mirra
Já agora, gostava que comentasse, nomeadamente em relação ao 4º parágrafo!

Joana Lopes disse...

Qual 4º parágrafo???

karlos disse...

Onde estavam os que agora estão muito incomodados com o suposto racismo do líder da CGTP quando o Salassie disse que se os portugueses queriam um Estado Social teriam de ter dinheiro para o pagar? Então este senhor chama xulos a todo um povo, ignora todo o dinheiro roubado aos fundos comunitários e aos cofres do Estado através da evasão fiscal para insinuar que os portugueses são uns malandros que querem viver à custa dos alemães e todos ficaram calados?

Anónimo disse...

Tem razão, Karlos.
O outro lado da notícia: a luta dos professores em defesa da escola pública, em defesa da sua dignidade, é obliterada pela fronda anticomunista.
Selassié é negro e isso não é problema. Problema é que é fdp que
marginaliza milhões de portugueses, numa forma superior de racismo, tratando-nos como undermeschen. E isto conta com a bonomia da Joana

Joao Pedro

João Carlos Graça disse...

"Anónimo disse...
A blague do sr.Arménio Carlos é simplesmente inadmissivel. E que revela novamente em profundidade
o drama/caos- teórico e politico- em que está mergulhado o PCP."
Agora digo eu: a enorme blague que é todo este pretenso debate só me parece revelar o quão profundo é o drama/caos teórico e político em que está mergulhada a pretensa "Esquerda" não-PC, ou anti-PC, tão pateticamente colonizada em profundidade pela cretinice do "politicamente correto" e pelos respetivos “purismos” linguísticos.
Como alguém já aqui comentou, destruir o estado social, matar pessoas aos magotes torna-se muito mais legítimo, aceitável e intocável desde que previamente vaselinizado (sim, escrevi "vaselinizado": será isso também politicamente incorreto por questões de "género" ou de "orientação sexual", vá, digam lá...) porque é um "escurinho" (sim, escrevi um "escurinho": será que, etc.?) a ser colocado à frente do processo. O verdadeiro assunto disto tudo é mesmo o tipo de pigmentação da epiderme do caramelo (será que… outra vez) em questão…
Tal o nível de primitivismo e de "ugabuguismo" (mais outra...) teórico-p0lítico da nossa “esquerda” politicamente correta...

Joana Lopes disse...

João Car los Graça,
Nem estou certa de perceber o seu comentário, mas se é a mim como esquerda anti-PC «colonizada em profundidade pela cretinice do "politicamente correto"», bateu a má porta. Só tento ser anti-esquerda-acéfala.

Tiago Malato disse...

Pode-se escrever muito e muito, mas o que aqui está em apreço é o
sintoma de involuntária falta de nível. E nós queremos gente com nível nos cargos que nos representam não é? E mesmo que não os tenhamos, temos de o desejar e não deixar passar alguma oportunidade para chamarmos à razão de todos essa urgência. Por sermos sempre tão condescendentes (até intelectualmente…) é que se tornou possível termos o (baixo ) nível de representação que faz a norma em Portugal.