9.4.13

Luta armada – a última acção antes do 25 de Abril



No dia 9 de Abril de 1974, as Brigadas Revolucionárias realizaram uma acção de sabotagem ao navio Niassa, no momento em que este ia partir para Bissau com um contingente de soldados. A explosão provocou um rombo no casco e um incêndio. As BR avisaram a PSP do Porto de Lisboa, uma hora e quinze minutos antes.

Esta acção contra a guerra colonial teve largo eco na população, sobretudo pelo elevado número de pessoas que se encontrava no cais, na hora da despedida, e há descrições feitas pelos próprios soldados que estavam a bordo: «O dia 9 de Abril de 1974 ficou profundamente marcado por todos os militares que estavam no navio Niassa, na altura encostado no Cais de Alcântara e assim como todos os que se encontravam na plataforma ou na varanda da Gare Marítima, a aguardar a partida que estava marcada para as 18 horas.
Às 17 horas já o embarque tinha sido efectuado e militares dum lado, familiares e amigos do outro, trocavam gestos e sons muito característicos destas alturas.
Notei a presença de homens rã a fazer uma inspecção a todo o casco do navio, mas possivelmente seria só uma rotina.
Eram 17 horas e 15 minutos e nos altifalantes do navio era solicitada a presença de todos os Oficiais, no bar da 1ª classe.
No referido bar encontrava-se um Brigadeiro que nos dirigiu a palavra de uma forma que eu por momentos não sabia se estava a partir ou se tinha chegado.
Passados alguns momentos ouve-se um grande estrondo, acompanhado de um balançar do navio.
Rapidamente saímos para o exterior e deparo com a maior gritaria e situações de pânico, que jamais tinha presenciado.
Todo o Navio foi evacuado e só na altura que todos os militares chegaram ao pé dos seus familiares e amigos, é que a situação ficou mais calma.»
 

Testemunho de Laurinda Queirós, militante das BR (*):
«A bomba foi dentro de um colete meu. Eu tinha um fato com um colete integrado. Nós cortámos o plástico em fatias e enchemos o forro desse colete, que por sua vez, foi dentro do blusão do militar que transportou a bomba para dentro do navio. Lembro-me de nos preocuparmos com o facto de ele ter de se abraçar à família antes de partir. A bomba não ia explodir, mas a carga plástica ia nesse colete que ele levava vestido e, ao ser abraçado, a família podia aperceber-se de algo anormal.»
(*) In Isabel Lindim, Mulheres de Armas, p. 215. 

Era assim a frágil «Branquinha» – pseudónimo da Laurinda na clandestinidade. 
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2 comments:

Jorge Conceição disse...

"No outro dia de manhã, quando acordámos já o navio estava do outro lado do rio junto à Lisnave, para ser reparado.
Entretanto arderam os beliches de madeira da tropa que ia no porão, bem como todos os seus pertences.
Os familiares não sabiam que o navio estava em reparações, a informação que era dada na rádio e televisão era de que o navio tinha seguido viagem, o que na verdade só veio a acontecer na manhã do dia seguinte. Aí começava uma odisseia de vários dias que infelizmente teve episódios bem infelizes".

Comentário importante de um furriel no blogue do "post" citado. Para se ter a noção que existiam sempre duas verdades: a real e a criada por conveniência política!

Joana Lopes disse...

Eu li isso, Jorge.
Claro que foi impossível não noticiar o acontecimento, mas a versão oficial, sem contraditório, foi a mais conveniente.