«E se este ano o pessimismo morresse na árvore como a alfarroba? E se a esperança fosse copiosa como a chuva? E se a memória se replantasse? E o povo fosse de aquacultura, para nascer rindo e viver como o girassol, sempre seguindo o seu rei? Estaria então a economia crescendo, o desemprego caindo, a agricultura prosperando? Não. Aceitemos a nossa condição para melhorá-la. Negá-la, não. (...)
O Presidente fez bem em enaltecer a agricultura. Depois fez quase tudo mal. Quem ouvisse Cavaco atacar os pessimistas lembrar-se-ia de Sócrates criticar os bota-abaixistas. O discurso é o mesmo. O curso, infelizmente, também. É verdade que há esperança na Agricultura. Mas dificilmente nela há a esperança do país. Dizê-lo não é mau feitio. É reconhecer o mal que foi feito.
A agricultura foi morta em Portugal. Morta pela Política Agrícola Comum, a que nos vendemos, abandonando o cultivo em troca de subsídios que malbaratámos, numa vergonhosa sanha novo-rica de corrupção e esbanjamento. Lucro privado consentido pelo Estado. Não é justo que Cavaco compare o que somos com o que éramos, criticando o saudosismo (a mesma palavra que se usava há cem anos contra os críticos da elite da Primeira República). Portugal era um país rural pobre. Tornou-se um país urbano falido. Compare-se o que éramos com o que podíamos ter sido. Esse é o exercício exigível. (...)
Todos os empreendedores que nascem na Agricultura merecerão estátuas nas suas casas e alguns nas nossas. Há projectos incríveis na vinha, no olival, na fruta, há a floresta, a pasta e papel, a cortiça. Sim, há muito valor na agricultura. Mas ele não cai das árvores. Pelo contrário, ele levanta-se do chão, a política europeia derrubou-o. Os portugueses limitaram-se a aceitar o jogo. A agricultura era coisa retrógrada. Se passar a ser vanguarda, será apenas moda.»
(O link pode só funcionar mais tarde.)
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1 comments:
Este blog está altamente. parabens pelas publicações!
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