15.6.13

Inaceitável



Pode-se ser contra a greve, contra qualquer greve, por motivos ideológicos, pode-se dizer o contrário mas agir como se se condenasse, praticamente sempre, o seu exercício. Mas é preciso que se tenha chegado a um adiantado estado de desnorte para que duas pessoas, indiscutivelmente inteligentes – Francisco Assis e Miguel Sousa Tavares –, condenem a actual greve dos professores comparando-a a uma hipotética acção de médicos que recusassem fazer urgências ou operar um doente já anestesiado (!...) ou de bombeiros que olhassem para um fogo sem o apagar.

Um exame é um exame, não mais do que um exame, e fazê-lo no dia x e não no dia y não é, nem nunca será, uma questão de vida ou de morte. Portanto, das duas uma: ou estes dois senhores têm filhos no 12º anos e não são suficientemente racionais para olharem objectivamente para o que escrevem ou andam nervosos por outros motivos e precisam de uma dose reforçada de Xanx.

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«Considero ignóbil a convocação de uma greve de professores para o primeiro dia de exames nacionais. É como se os médicos decidissem fazer greves às urgências hospitalares. Incompreensível, indigno, inaceitável».
Francisco Assis, Público, 23/5/2013

«Não contesto que as greves, por natureza, causem incómodos a outrem—ou não fariam sentido. Mas há limites para tudo. Limites de brio profissional: um cirurgião não resolve entrar em greve quando recebe um doente já anestesiado pronto para a operação; um controlador aéreo não entra em greve quando tem um avião a fazer-se à pista; um bombeiro não entra em greve quando há um incêndio para apagar. (...) Paciência, é isto que eu penso: esta greve dos professores aos exames, por muitas razões que possam ter, é inadmissível.»
Miguel Sousa Tavares, Expresso, 15/6/2013 
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3 comments:

Miguel Serras Pereira disse...

Pois é, Joana. Mas talvez valha a pena lembrar que:
1."O colégio arbitral, que recusou a fixação de serviços mínimos para a greve de segunda-feira, tinha sugerido o adiamento dos exames do dia 17 para o dia 20, medida que o Ministério da Educação recusou" (cf. http://www.dn.pt/inicio/portugal/interior.aspx?content_id=3268954); e 2. que foi o ministro quem não se contentou com a aceitação dos sindicatos da data alternativa sugerida, alegando que essa só seria aceitável caso os sindicatos se comprometessem a não voltarem a fazer greve em dias de exames - assinando um cheque em branco e abrindo caminho a uma evolução em cujo termo só seriam legais e nobres ou briosas as greves que se fizessem nos dias autorizados pela entidade patronal, ou seja que fossem autorizadas pelo patronato e/ou pelo governo.

msp

Joana Lopes disse...

Claro, Miguel, há isso e muito mais em toda esta saga. Fiquei apenas estas posições por serem especialmente patéticas.

Tripalio disse...

Tenho pena de dizer, francisco assis e sousa tavares são "inteligentes" mas têm um pensamento à direita na área do trabalho. sousa Tavares sempre foi anti função pública, e nunca o escondeu, já chamou aos profs a classe mais inutil de Portugal. Esperar o quê portanto??