2.7.13

E depois do Adeus



Excertos de um importante texto de Pedro Santos Guerreiro, no Negócios de hoje (*):

«Trocar Vítor Gaspar por Maria Luís Albuquerque não é mudar de política. É trocar um obstinado com poder por uma obstinada sem poder. A obstinação não é em si mesmo um problema, mas num Governo em que Passos Coelho nunca mandou nem deixou mandar, quem mandará agora? A troika, ainda e sempre? Ninguém? (...)

Foi esta gente que elegemos, em que confiámos, que mandatámos, é esta gente que permanece gozando de uma contestação sem violência e da tolerância social à austeridade. Não foi o país que falhou. Foi o Governo e a Europa. E é esta gente que revela não perceber a grandeza e exigência do seu mandato. Gaspar percebeu-o. Saiu. E ao sair deixou uma carta que diz tudo. (...)

Não tivemos azar na destruição da procura interna da economia. Foi deliberado. O fracasso confesso de Gaspar é o fracasso de uma política económica dita liberal, que teve como ideólogos pessoas que aqui foram chamadas de estupidamente inteligentes, incluindo António Borges, Braga de Macedo e, claro, Vítor Gaspar. (...)

A economia está a morrer. Em parte porque as previsões do modelo falharam. Mas a expiação é maior do que o bode. A economia está a morrer também porque o Governo falhou gravemente no desmantelamento dos interesses instalados, que afinal permanecem. A economia está a morrer também porque o Governo falhou gravemente no corte da despesa permanente e na reforma do Estado, o que levou a sucessivos golpes de austeridade, ora colossais, ora enormes. A economia está a morrer porque em vez de comando há desnorte, tira-se, repõe-se, retira-se, opõe-se medidas a medidas, prolongando a incerteza e aniquilando a confiança. A economia está a morrer porque além de semear o mal que era (e era) necessário semear, o Governo não teve uma ideia, uma proposta, uma política que surpreendesse. (...)

Desta vez o mundo não mudou. Portugal não mudou. O Estado não mudou. Tudo está desgraçadamente o mesmo. O país livrou-se de Vítor Gaspar. Mas quem sente leveza depois disso não percebe nada do que está a acontecer em Portugal. Tomara nós que o problema fosse Gaspar. Vítor gastou-se, a austeridade não.»

(*) O link pode só funcionar mais tarde.
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