6.7.13

Três tempos e uma crise política


Excertos do artigo de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (edição portuguesa) deste mês: 

Neste regime de austeridade instaurado pela crise financeira, e depois económica e social, a crise política não é um acontecimento isolado no tempo nem uma instabilidade passageira que possa ser, por si só, resolvida com a substituição dos protagonistas políticos. Por muito que haja alturas, como agora, em que seja amplamente consensual que sem a substituição desses protagonistas, devolvendo a palavra ao povo em eleições, não haverá qualquer possibilidade de inverter o rumo de empobrecimento e recessão de que é feito o enredo trágico em curso.

Neste regime, aquilo a que chamamos crise política é a fase que se instala quando se torna evidente para a maioria da população que a resposta austeritária, seja ela aplicada com maior ou menor convicção, está estruturalmente desenhada para rebaixar as condições de vida dos que menos têm, das classes populares às classes médias e aumentar os lucros dos mais poderosos. A crise política não é, neste sentido, um mero episódio com estes ou aqueles protagonistas, mais «incompetentes» ou com mais «sensibilidade social», mas uma etapa que tenderá a repetir-se com vários actores, por vezes por causa deles e outras apesar deles. Em processo de aceleração, poderá triturar lideranças políticas, umas atrás das outras, como se de uma linha de montagem se tratasse, e poderá determinar a morte, o rearranjo e até o surgimento de novos actores político-partidários, deixando porventura irreconhecível a paisagem que hoje conhecemos, em Portugal como noutros países. (...)

Esta fase, cuja duração é impossível de prever, não terminará com a substituição de sucessivos protagonistas que interpretem o mesmo guião – apenas tenderá a encurtar os ciclos em que estes actuam. A crise política só terminará quando este desacreditado mas ainda poderoso austeritarismo der lugar a outras escolhas, num processo que exigirá uma clara compreensão dos bloqueios e das potencialidades nacionais e internacionais, que envolverá escolhas difíceis orientadas para o bem-estar da maioria, e que implicará alianças políticas e sociais fortes. (...)

Neste sentido, são três as áreas em que se joga o sucesso das políticas futuras de quem estiver determinado em inverter o rumo seguido pela coligação liderada por Passos Coelho e governar em benefício da maioria: a austeridade, a dívida e a inserção europeia. (...)
Austeridade, dívida e inserção europeia têm de ser objecto de uma acção política integrada, de modo a propiciar a formação de alianças claras e fortes. A todos os actores político-partidários é pedida uma definição da sua disponibilidade para afrontar as estruturas europeias e os condicionalismos que os credores impõem no âmbito de um lucrativo projecto ideológico orientado para a destruição do Estado social, da democracia e do trabalho com direitos. É tempo de pôr fim ao disfuncionamento total em que o país e a Europa se estão a afundar. As greves e demais protestos que os trabalhadores portugueses têm feito, em condições de enorme dureza, já apontaram o caminho que desfaz falsos consensos e anuncia um novo começo. 

Na íntegra AQUI.
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