Este texto de Manuel Esteves, no Negócios (*), é particularmente oportuno em vésperas de eleições, quando tantos se desculpam com a má qualidade dos políticos para tudo e mais uma coisa e, de um modo especial, para se reduzirem à função de juízes de sofá em vez de irem votar no próximo Domingo. «Os políticos só serão todos iguais no dia em que os eleitores forem todos iguais.»
«Existem razões de sobra para que nos sintamos descontentes com a qualidade média dos políticos e com o seu desempenho. A forma fechada como os partidos funcionam, a vulnerabilidade das suas agendas a temas eleitoralistas, a dependência financeira dos seus protagonistas face à dita actividade política e a falta de qualificações suscitam legítimo e compreensível desagrado. Mas nada disto justifica o discurso anti-político do "são todos iguais". É errado e é perigoso.
Os políticos só serão todos iguais no dia em que os eleitores forem todos iguais. Enquanto houver eleitores que se informam, reflectem e decidem, haverá políticos sérios e capazes. Se, pelo contrário, cresce o número de eleitores mal informados, desinteressados e alienados da causa pública, maior será o número de políticos incompetentes e corruptos. (...)
Sabe-nos bem dizer mal e sabemos que isso só é possível em democracia. E não temos tempo nem jeito para intervir no bairro, na escola ou no local de trabalho. E, assim, lá vamos andando, "com a cabeça entre as orelhas", libertando, muitas vezes sem querer, o pequeno fascista que temos dentro de nós e que aos poucos e poucos vai minando os pilares da nossa democracia.»
(O link pode só funcionar mais tarde.)
.
3 comments:
Joana, permite que me intrometa.
Sou muito sensível a esta questão.
Este texto é redutor, e serve-se unicamente de lugares-comuns. A questão da abstenção não se esgota em meia dúzia de lugares-comuns. Reduzi-la a uma (não)atitude de quem é desinteressado, desinformado, alienado e, no fundo, proto-fascista, é ofensivo para muitos que não votam (não é o meu caso, pelo menos este domingo) e todavia não são juízes de sofá, e todavia intervêm em muito lado. Este discurso politicamente correcto, e maniqueísta, serve apenas para impedir a discussão séria da natureza, das causas e das responsabilidades relativas à abstenção. E, já agora, do seu significado político.
Abraço
Miguel Teotónio Pereira
Miguel,
O «link» para o texto na íntegra já funciona a esta hora, o que pode ajudar a completar algumas ideias. De qualquer modo, ele nem é especificamente sobre abstenção em momento de votação (fui mais eu que o puxei para o tema), mas mais sobre imobilismo perante a convicção de que «todos os políticos são corruptos» e sobre os perigos que essa afirmação, cada vez mais generalizada, representa para a democracia.
Abraço
Tendo a concordar, fortemente. O último parágrafo resume tudo.
Enviar um comentário