9.1.14

Simone, «Castor»



Simone Lucie-Ernestine-Marie Bertrand de Beauvoir nasceu a 9 de Janeiro e seria hoje pouco mais velha do que Manoel de Oliveira: faria 106 anos. Até o Google assinala a data e voltaram a ser citados documentos elaborados para o centenário, celebrado há seis anos, por exemplo um biografia da autoria de Danièle Sallenave: Castor de Guerre.

Tudo já foi escrito sobre Simone, mas vale talvez a pena recordar o papel decisivo de uma das suas obras: Le Deuxième Sexe. Se esteve longe de ser um manifesto militante ou arauto de movimentos feministas que, em França, só viriam a surgir quase duas décadas mais tarde, a verdade é que os espíritos não estavam preparados para a problemática da libertação da mulher, tal como Simone de Beauvoir a abordou, nem para a crueza da sua linguagem.

As reacções não se fizeram esperar, tanto à esquerda (onde o problema da mulher estava fora de todas as listas de prioridades), como, naturalmente, à direita. François Mauriac escreveu: «Nous avons littérairement atteint les limites de l’abject», Albert Camus acusou Beauvoir de «déshonorer le mâle français».

Para a compreensão e a consagração da obra foi decisivo o sucesso nos Estados Unidos, onde foi publicada em 1953. O movimento feminista, em que Betty Friedman e Kate Millet eram já referências, estava aí suficientemente avançado para a receber. Efeito boomerang: Le Deuxième Sexe «regressou» à Europa no fim da década de 50, com um outro estatuto, quase bíblico, e teve a partir de então uma longa época de glória.






Gosto muito de Simone dita por Fernanda Montenegro:




«La mort semble bien moins terrible, quand on est fatigué», escreveu Simone em Les Mandarins. Não sei se foi o caso, em 1986, quando morreu com 78 anos. Talvez, espero que sim. 
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