@Alfredo Cunha
«Eu tinha 10 anos quando se deu o 25 de Abril. (...) Veio o 1.º de Maio na Alameda, onde vi mulheres a fumar, barbudos, cabeludos - eu nem sabia que o cabelo de um homem podia crescer aquilo - e canções que tinham uma letra que era o oposto ao que eu estava habituado a ler nos livros da escola - havia mesmo outro mundo, e eu já suspeitava: naquele, dos meus livros, não era possível viver.
Agora, anda por aí gente a fingir que antes do 25 do 4 aquilo não era mau, eu estive lá e era muito mau, miúdos. Depois veio aquele dia e tudo mudou. Foram tempos incríveis em que os adultos estavam distraídos a ser miúdos e se esqueciam de nós: as revelações e surpresas, sobre o mundo em que vivíamos, sucediam-se. Para mim, com 10 anos, era como poder espreitar por detrás do cenário. Por tudo isto, o 25 de Abril foi o meu melhor amigo de infância. Foi ele que me salvou. É um amigo imaginário que se tornou real. Nunca me esqueço dele.
Agora que já desabafei, posso confessar que aquela que considero a verdadeira, e digna, comemoração dos 40 anos da revolução de Abril aconteceu em meados de Fevereiro, quando, segundo foi noticiado, o "mau tempo arrasou com a casa de Salazar no Vimeiro". É que para quem ainda tinha dúvidas, São Pedro sempre foi antifascista. (...)
A queda da casa de Salazar é uma bela metáfora dos 40 anos do 25 de Abril porque a casa caiu por si. Passaram 40 anos e ainda ninguém tinha deitado aquilo abaixo. Isto diz muito de nós. É melhor estar calado que a Assunção Esteves é menina para mandar reconstruir a casa do Botas (pelo Souto de Moura) para festejar o 25 do 4.»
João Quadros
(O link pode só funcionar mais tarde.)
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