António José Seguro anunciou, há dois dias, que o PS votará a favor da Moção de Censura ao governo, apresentada pelo PCP e que será discutida e votada depois de amanhã.
O texto da dita Moção está online, já o li e pergunto: será que o Partido Socialista assina por baixo afirmações como estas, escolhidas a título de exemplo?
«O Governo e os partidos que o suportam (...) têm por objectivo esconder dos portugueses o projecto de amarrar Portugal à situação de dependência, por via dos mesmos ou de outros instrumentos de dominação da União Europeia (designadamente por via do Tratado Orçamental).»
«A mais grave situação nacional desde os tempos do fascismo torna indesmentível o retrocesso económico e social a que conduziu a política de direita executada nos últimos 37 anos por sucessivos governos, agravada nos últimos anos pela execução dos PEC e do Pacto de Agressão assinado por PS, PSD e CDS com a troica estrangeira do FMI, BCE e Comissão Europeia.»
Não ditaria o mais elementar bom senso que Seguro tivesse esperado para ver o texto antes de comprometer o seu partido? Claro que haverá declarações de voto (e disciplina?...) com demarcações, mas votar a favor é votar a favor. E esta iniciativa autofágica de se condenar a si próprio é a cereja em cima de um bolo, difícil de digerir, no banquete pandemónico actualmente em curso no PS.
O dia 30 de Maio será uma sexta-feira negra para António José Seguro – talvez mesmo no sentido original da expressão.
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6 comments:
Discordámos no Facebook acerca do interesse e mérito político da moção. Entre outras razões, entendo que ela podia ser um passo para o isolamento da direita, reforçando a vitória magra do PS. Assim, agora, acho que provocar o PS com um texto destes é um erro e que dá pretexto razoável ao PS para se abster, ficando então isolado é o PCP.
João, Até pensei na nossa conversa do Facebook quando escrevi isto. Mas discordo também do que diz aqui, porque o PCP não tinha de se preocupar em escrever um texto que agradasse ao PS. Este, se tivesse querido, que tivesse avançado com um de sua autoria.
E volto ao que então disse: esta moção (sobretudo se o PS mantiver o que disse, votando a favor) é uma prenda para o governo, agora bem apimentada com a guerra interna no PS.
Concordo com tudo o que dizes, Joana. Mas há um aspecto que não referes e que eu julgo significativo. O PCP, quando publicou o texto da moção, já sabia que Seguro se comprometera a apoiá-la. E encurralou-o numa situação da qual ele não se poderá sair senão pessimamente, faça o que fizer. Não votar a moção será mostrar, uma vez mais, que o PCP tem razão quando alerta contra as "falsas promessas" do PS. Votar uma moção que acusa o PS nos termos em que o texto o faz é consentir e subscrever uma rendição tão humilhante que não sei como será possível aos deputados do PS fazerem-no. Tanto mais que, como bem notas, a moção só beneficia o governo.
Miguel, tens razão, mas o AJS estendeu a passadeira vermelha para o PCP manter (ou alterar, não sei) o texto da moção! Esperava o quê?
Claro, Joana. A minha ideia foi só acrescentar um ponto que, como disse, corrobora o que disseste. E, também, a insondável nulidade política de Seguro.
Segundo leio hoje, a saída do PS foi dar liberdade de voto. Como se, por tod a tradição parlamentar em toda a parte, moçõess de censura não fossem daquelas matérias de bloco partidário.
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