Faz hoje 88 anos que foi instituída a censura prévia à imprensa em Portugal, pela ditadura militar saída do golpe de 28 de Maio. Como é sabido, iria durar 48 anos.
Vivemos agora com liberdade de expressão e dispomos de uma diversidade de meios de acesso à informação com que nem sequer podíamos sonhar nos tempos que se seguiram ao 25 de Abril. E, no entanto...
Num texto que escrevi para a edição portuguesa de Le Monde Diplomatique, e que reproduzi mais tarde neste blogue, chamei a atenção para um interessante conceito definido por Ignacio Ramonet em A Tirania da Comunicação (1). Segundo o autor, existe actualmente uma «censura democrática» que se introduz subrepticiamente nos países livres onde se respeita o direito de expressão e de opinião. Não se concretiza em cortes ou proibições, mas sim «na acumulação, na saturação, no excesso e na superabundância de informações», que permitem artifícios, mentiras e silêncios, que toldam a transparência do que é transmitido. A informação é tanta que pode ser dissimulada ou truncada, sem que se chegue a perceber o que falta, e torna-se mesmo naturalmente incontrolável. Voluntária ou involuntariamente, acaba por ser manipulada.
A pressa e a leveza com que quase tudo é abordado, e muitas vezes reduzido a puros soundbites, acabam por influenciar muitíssimo a opinião pública, aquela que está para além das elites, sempre minoritárias, que são capazes de filtrar o que lêem, o que vêem e o que ouvem. É assim que estamos. É útil não esquecer.
(1) Ignacio Ramonet, A Tirania da Comunicação, http://pt.scribd.com/doc/2230907/IGNACIO-RAMONET-tirania-da-comunicacao, p.13.
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