O texto de Sandra Monteiro em Le Monde Diplomatique (ed. portuguesa) deste mês.
«Este Verão, que fica marcado pelo recrudescimento assombroso de guerras e massacres, trouxe à actualidade o caso BES e, com ele, o regresso de um odor fétido que faz lembrar o início da crise financeira internacional, em 2007-2008. Nessa altura, o rebentamento de escândalos financeiros e as falências bancárias tiveram como resposta salvamentos vários pelos poderes públicos, com socialização dos prejuízos, para evitar riscos sistémicos (crédito, pagamentos) sobre toda a economia. Multiplicaram-se os discursos inflamados contra comportamentos individuais moralmente condenáveis e a favor de uma nova era de regulação e supervisão do sector. Quanto menos se avançava nas alterações estruturais aventadas, mais irados e moralistas se tornavam os discursos. O ruído é uma arma.
Os anos passaram. Entre políticas austeritárias e lavagens bancárias, passaram também os rendimentos de trabalhadores e pensionistas, as protecções sociais e os recursos públicos. Os governos nacionais e as instituições europeias transferiram-nos, tanto quanto conseguiram, da esfera do trabalho para a do capital. Na supervisão e regulação da banca-finança, pouco mudou. Sem surpresa, os escândalos financeiros e as falências bancárias continuam a irromper ciclicamente, as sociedades continuam a ver o resultado do seu trabalho desviado para fins e interesses privados e a ouvir dizer que, para o que importa, não há dinheiro. É o que acontece quando se governa para grandes accionistas e credores.
O caso BES, que envolve o Banco Espírito Santo e tantas outras estruturas do grupo, é de facto um exemplo paradigmático do colapso de um modelo económico historicamente falido. É-o também da plasticidade das respostas da economia financeirizada e da capacidade que esta tem, através de governos cúmplices ou complacentes, de conseguir que uma crise de sistema seja suportada pelos cidadãos contribuintes. Espera-se que as entidades competentes apurem responsabilidades quanto aos indícios de falsificação de contas, gestão danosa, abusos de informação privilegiada, etc. Mas, enquanto isso, a lavagem (separação dos activos tóxicos) que criou o Novo Banco, que a seguir deve ser vendido, volta a ameaçar comprometer dinheiros públicos, desde logo pelo papel da Caixa Geral de Depósitos no modelo da resolução encontrada.»
(Continuar a ler AQUI.)
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