«Há algumas semanas, a directora do FMI, Christine Lagarde, cunhou um novo termo: "the new mediocre". A nova mediocridade tinha a ver, claro, com a economia global e a incapacidade de gerar crescimento.
Muitas vezes a macroeconomia parece pouco ter a ver com a realidade da vida diária, mas a mediocridade apontada por Lagarde acaba por se revelar mais vasta. Ela mostra o nivelamento por baixo a que assistimos nesta sociedade, da política à economia ou à cultura. A mediocridade tornou-se hegemónica, limitando a criatividade. Todos estamos reféns de vias únicas ("não há alternativas" dizem muito por aí), reinventando e homenageando o que teve sucesso no passado, onde não há espaço para a inspiração.
O afunilamento criado por esta mediocridade é visível numa Europa, teoricamente liderada por um homem que conviveu democraticamente com a governação de um país que era uma verdadeira "off-shore" (e ainda se fala da Madeira!) em concorrência com a fiscalidade de outros países da UE, tal como faz a Holanda ou a Grã-Bretanha. Esta mediocridade é também notória na política de austeridade como única via que leva a que os países mais pobres e endividados tenham de, para lá da chamada desvalorização interna, criar coisas como os vistos "gold" com exigências débeis. Só para conseguir dinheiro. (...)
Não é por acaso que a Europa vive o seu lento suicídio e que a criatividade está em Silicon Valley e não por aqui. Foi esta mediocridade que sempre tornou Portugal, com raras excepções, um lugar de emigração e de corrupção. Todo esse modelo medíocre está de regresso, o que é pena, porque este país teve possibilidades de ser um modelo de modernidade, inovação e criatividade. Mas preso nas mãos da mediocridade que ocupou o centro de tudo, o Estado, Portugal é o que se vê. "Viver não é necessário. Necessário é criar", dizia Fernando Pessoa. Nunca isso foi tão válido nesta nova mediocridade.»
Fernando Sobral
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