31.12.15

Entrem em 2016 com o pé esquerdo



Não se enganem. Bom Ano!
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Vemos, ouvimos e lemos



Há 47 anos, Francisco Fanhais cantou pela primeira vez a Cantata da Paz, com letra de Sophia Melo Breyner, numa vigília contra a guerra colonial. Relembrar aqui:


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Amicum ex machina



Ricardo Araújo Pereira na Visão de hoje: 

«Sem querer menosprezar a imaginação de Walt Disney, creio que o mundo de José Sócrates tem mais fantasia. (…) As personagens de Walt Disney vivem num mundo de fantasia, no qual o dinheiro não tem o valor que lhe damos na vida real, ao passo que Sócrates vive num mundo muito parecido com o nosso, mas onde o dinheiro também não tem o valor que lhe damos na vida real. (…)

Sócrates vive num mundo de fantasia porque tem um amigo fantástico. A explicação parece um deus ex machina mas não é. É um amicum ex machina.»

Na íntegra AQUI.
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O grande mal-estar continua



Um importante texto de Joseph E. Stiglitz.

«O ano de 2015 foi globalmente difícil. O Brasil entrou em recessão. A economia chinesa registou os seus primeiros solavancos sérios depois de quase quatro décadas de crescimento alucinante. A Zona Euro conseguiu evitar um desmoronamento à conta da Grécia, mas manteve-se numa situação de quase-estagnação, contribuindo para o que seguramente será visto como uma década perdida. Para os Estados Unidos, 2015 era suposto ser o ano que finalmente viraria a página da Grande Recessão que teve início em 2008, mas, em vez disso, a retoma norte-americana tem sido mediana. (…)

A estrutura económica desta inércia é fácil de compreender e existem remédios facilmente acessíveis. O mundo confronta-se com uma deficiência da procura agregada, resultante da conjugação de uma desigualdade crescente e de uma insensata vaga de austeridade orçamental. Os que estavam no topo gastaram muito menos do que aqueles que estavam no fundo – e, por isso, à medida que o dinheiro sobe, a procura desce. E países como a Alemanha, que mantêm excedentes externos de forma consistente, estão a contribuir significativamente para o problema-chave da insuficiência da procura global. (…)

A única cura para o mal-estar mundial reside no aumento da procura agregada. A ambiciosa redistribuição de rendimentos poderia ajudar, tal como uma profunda reforma do nosso sistema financeiro – não só para evitar que este penalize as restantes pessoas como também para conseguir que os bancos e outras instituições financeiras façam aquilo que é suposto fazerem: fazerem corresponder as poupanças de longo prazo com as necessidades de longo prazo em matéria de investimento.

Mas alguns dos problemas mundiais mais importantes exigirão investimento dos governos. Essas despesas públicas são necessárias em infra-estruturas, educação, tecnologia, ambiente e facilitação das necessárias reformas estruturais em todos os cantos do mundo.

Os obstáculos com que a economia global se confronta não têm as suas raízes na economia, mas sim na política e na ideologia. O sector privado criou a desigualdade e a degradação ambiental com que temos agora que contar. Os mercados não conseguirão, por si só, resolver estes e outros problemas críticos que criaram nem devolver a prosperidade. São necessárias políticas governamentais activas. (…)

Os optimistas dizem que 2016 será melhor do que 2015. Isso até pode vir a acontecer, mas só de forma imperceptível. Se não solucionarmos o problema da insuficiente procura agregada global, o Grande Mal-Estar vai continuar.» 
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Sim, eu apoio a Marisa Matias



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30.12.15

2016 é bissexto? Sim, é


  • São bissextos todos os anos múltiplos de 400.
  • São bissextos todos os múltiplos de 4 e não múltiplos de 100.
  • Não são bissextos todos os demais anos.
Outra formulação:
  • De 4 em 4 anos é ano bissexto.
  • De 100 em 100 anos não é ano bissexto.
  • De 400 em 400 anos é ano bissexto.
  • Prevalecem as últimas regras sobre as primeiras.
(Daqui)

Aretha Franklin, com 73, há 3 semanas




(Daqui)
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Idiotia e Felicidade



Este texto de Alexandre O'Neill foi escrito há mais de 30 anos, mas qualquer semelhança com a actualidade não é pura coincidência.

«Como pode ser-se idiota e, ao mesmo tempo, feliz, pergunta-me um leitor? Pois explico já. A idiotia e a felicidade são ideias muito vagas, difíceis de cingir em conceitos de circulação universal, digamos. Mas, pensando melhor, acho que certa idiotia é susceptível de conferir ao idiota seu proprietário (ou seu prisioneiro) uma espécie de segurança em si próprio que o levará, em determinados momentos, julgo eu, a uma beatitude muito próxima do que se pode chamar estado de felicidade. Assim sendo, não vejo incompatibilidade entre o ser-se idiota e o ser-se feliz. Bem sei que há várias maneiras de se chegar a idiota. (...)

Ora, um idiota que é infeliz por saber que é idiota já pode estar a caminho de deixar de o ser. É uma possibilidade. É a tal luz no fundo do túnel, como se disse tantas vezes a propósito da situação económica deste idiota de país.

Não se espante, por conseguinte, o leitor de que um qualquer idiota possa, ao mesmo tempo, ser feliz. É, até, assaz corrente. Há idiotas que se consideram inteligentíssimos, o que é uma forma muito comum de idiotia, e extraem dessa certeza alguma felicidade, aquela maneira de felicidade que consiste em uma pessoa se julgar muito superior às que a rodeiam.
O leitor gostaria de ser ministro ou secretário de Estado? Pois fique sabendo que há quem goste, embora - será justo dizê-lo - também há quem o seja a contragosto, por dever partidário ou patriótico.

Os idiotas, de modo geral, não fazem um mal por aí além, mas, se detêm poder e chegam a ser felizes em demasia podem tornar-se perigosos. É que um idiota, ainda por cima feliz, ainda por cima como poder, é, quase sempre, um perigo.
Oremos.
Oremos para que o idiota só muito raramente se sinta feliz. Também, coitado, há-de ter, volta e meia, que sentir-se qualquer coisa.»

Alexandre O'Neill, Uma Coisa em Forma de Assim, 1980 
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Um país de barba rija



Mulheres? Não existem.
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16 anos de enjoos



«O ano termina com uma boa notícia. 16 anos depois, Portas sai da liderança do CDS. Foi a sua resolução de ano novo e um dos meus desejos quando mordi uma das velas no meu aniversário.

O anúncio foi feito segunda-feira na comissão política, mas claro que ninguém acreditou e toda a comissão política pensou que na terça já ia ser diferente. Mas não. Tudo indica que agora é mesmo verdade, o PP vai perder as iniciais. O partido com o ferro de Paulo Portas vai perder o ganadeiro. Poucos políticos conseguiram ter um partido com as mesmas iniciais que tinham nas cuecas ou nas meias em crianças. Um partido botão de punho. (…)

Recordar que Paulo Portas começa carreira no jornalismo com nojo da política e que termina a carreira de político sem enjoos. Muitas vezes nos questionámos, aqui no café ao pé de casa, o que diria o Independente dos submarinos. Ou do Irrevogável. Portas seria o Cavaco de Portas do Independente.

Portas, qual Luís Filipe Vieira, quer apostar nas novas gerações, na formação das escolas do PP. Nuno Melo pode ser aposta. Entra na categoria nova geração pois, apesar do cabelo branco, quando abre a boca fala como um miúdo de quinze alcoolizado. Para Nuno Melo, a política é uma viagem de finalistas.

Outra potencial candidata das oficinas do PP é Assunção Cristas. Representa um lado mais beato do PP já a roçar o CDS. Só o nome – Assunção Cristas – deve valer votos dos mais crentes. Há igrejas e cultos com nomes menos capazes. Dizem alguns fãs do ex-Governo que Assunção pode ter o voto dos agricultores, ou seja, para aí umas setenta pessoas. Assunção ficou famosa, enquanto ministra da Agricultura, por ter rezado a Deus para acabar com a seca e por ter ficado grávida. E uma coisa não teve nada a ver com a outra.

Pedro Mota Soares é outro candidato jovem. Ou melhor, uma daquelas pessoas de idade indefinida, como o actor Manuel Marques. Tanto pode parecer ter dezoito anos como cinquenta e dois. De moto é um puto, no Audi do Governo parece um velhinho marreco. Pedro Mota Soares é, provavelmente, o candidato mais queimado na opinião pública. A sua passagem pela Segurança Social faz com que muita gente pense que ele nem mota devia guiar. (…)

Vamos ver quem irá para o lugar de Portas. Aceitam-se apostas. Pelo meu lado, começo este ano com muita fé. Um 2016 sem Paulo Portas e Aníbal Cavaco Silva, seja o que lá vem, a coisa promete. Bom ano.»

João Quadros

29.12.15

Se a moderação pagasse taxa...

Com amigos como Marcelo, o SNS não precisa de inimigos



«Perante as desgraças ocorridas no Serviço Nacional de Saúde em consequência dos cortes determinados pelo Governo PSD/CDS veio Marcelo Rebelo de Sousa afirmar-se um defensor do Estado Social e lembrar que até votou a favor da Constituição.

Deixemos para depois tudo o que o PSD fez para torpedear a entrada em vigor da Constituição e as tentativas golpistas que fez para a revogar por via referendária e fiquemos para já por Marcelo e pelo SNS.

Era Marcelo o líder do PSD, em 1996 e 1997, quando decorreu a IV revisão constitucional. O Projecto do PSD propunha nada menos que a eliminação da gratuitidade tendencial do Serviço Nacional de Saúde (já a transformação da gratuitidade em tendencial tinha sido proposta pelo PSD na revisão de 1989 e aceite então pelo PS). Em 1996 o PSD pretendia acabar com a gratuitidade, mesmo que tendencial.

Essa proposta do PSD foi amplamente debatida na Comissão Eventual de Revisão em 25/09/1996 e foi aí rejeitada pelo PCP e pelo PS em 14/05/1997 após um debate em que o PSD (pela voz de Marques Guedes) a defendeu energicamente.

Em plenário, o CDS fez sua a proposta do PSD, que foi votada favoravelmente pelo PSD e pelo CDS e rejeitada pelo PCP e pelo PS, não tendo obtido a necessária maioria de dois terços.

Marcelo Rebelo de Sousa era líder do PSD, que pretendia eliminar da Constituição a gratuitidade tendencial do SNS. Tão amigo que ele é agora do Estado Social.»

António Filipe, deputado do PCP, ontem no Facebook.
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Dica (191)




«Desculpem, mas não há peru, rabanadas e lampreias de ovos que me façam passar o engulho da factura que neste final do ano veio parar outra vez aos bolsos dos contribuintes por mais um banco que entrega a alma ao criador, no caso o Banif, no caso mais 3 mil milhões. É de mais, é inaceitável, é uma ignomínia para todos os que estão desempregados ou caíram no limiar da pobreza por causa desta crise e mais uma violência brutal para os que continuam a pagar impostos (e que são apenas cerca de 50% de todos os contribuintes).» 
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A ideologia e a realidade



«À guisa de brinde de fim de ano, Cavaco Silva decidiu oferecer-nos mais uma pérola na intervenção que fez, na semana passada, no encerramento do Conselho da Diáspora. "Observando a zona euro”, disse o PR, “verificamos que a governação ideológica pode durar algum tempo, faz os seus estragos na economia, deixa facturas por pagar, mas acaba sempre por ser derrotada pela realidade".

O tópico é um dos temas fetiche de Cavaco Silva, mas é significativo que, em fim de mandato, o PR queira sublinhar o pouco que evoluiu ao longo da sua vida política. Para Cavaco, existe uma única maneira de ver o mundo e de tomar decisões, uma única maneira de pensar e de sentir, uma única perspectiva possível, um único interesse possível, um único objectivo possível, uma única atitude: a sua. Ele marcha bem, os outros marcham mal. Como o próprio explicou uma vez, Cavaco acha que duas pessoas que possuam a mesma informação não podem deixar de decidir a mesma coisa. Não querendo atrever-se a afirmar que a sua ideologia e que os seus interesses são melhores que os outros, Cavaco coloca-se, como sempre fez, fora do mundo, acima do mundo, acima da política, acima da ideologia. As suas opiniões não são opiniões, são factos. Ele não é político, não é ideológico, não defende interesses particulares. Os outros sim. A sua política é a política que é, a dos outros a política que não pode ser. Ele é… Deus.

Para Cavaco, a realidade impõe todas as escolhas e a política poderia reduzir-se a um programa de computador, alimentado pela informação relevante. Para Cavaco não há várias escolhas possíveis porque a realidade proíbe as escolhas. Cavaco é figadalmente contra a democracia, contra a possibilidade de escolher. A própria ideia de escolha e de vontade é infantil, impossível. E, quem tenta escolher, quem tenta moldar o presente e o futuro de acordo com a sua visão do mundo e a vontade dos cidadãos, choca contra a brutal violência da realidade, deixando “facturas por pagar”. Para Cavaco, a Natureza tem horror às escolhas. Cavaco finge que não sabe que cada um de nós tem interesses e desejos diversos, que diferentes grupos sociais têm diferentes visões e objectivos. Cavaco quer convencer-nos de que a política consiste em fazer sempre o jogo do mais forte, da “realidade”, em nunca tentar escolher. Cavaco é um colaboracionista na alma, sempre obedecendo ao mais forte e tentando convencer-nos a obedecer também, a nunca pensar, a não desejar.»

José Vítor Malheiros

28.12.15

Et maintenant, que vais-je faire

Boas Entradas antecipadas


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E Marcelo também vai lá chegar?


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Dica (190)



Desistências presidenciais. (Francisco Louçã) 

«Se algum candidato ou candidata desistir, é porque quer favorecer a vitória de Marcelo Rebelo de Sousa na primeira volta. Como o seu eleitorado é transversal e tem sido um êxito a sua afirmação como “anti-Cavaco” ou pelo menos como “pós-Cavaco”, quem quer que se retire, deixando de polarizar votos, favorece a abstenção, perde votos até para Marcelo e só ajuda marginalmente outros candidatos … que demonstraram que são incapazes de ser suficientemente polarizadores por si mesmos, ou seja, que se mostram derrotados.

Mais vale que se trate a ideia da desistência como ela merece: os únicos candidatos que são pressionados a desistir pelos eleitores da sua própria área são os do PS, porque as suas candidaturas não definiram um campo forte nas eleições presidenciais. Esses eleitores sentem que o PS desistiu das presidenciais. É um erro pensar que algum acontecimento mágico vai resolver o problema criado pelo seu fracasso. Mais vale que os candidatos e candidatas deitem as mãos à obra.» 
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Tempo de brindes e favas



«Há uma tradição que se perdeu. Os bolos-reis deixaram, talvez por não ser politicamente correcto, de ter brindes e favas. Ou talvez porque os brindes deixaram de sair aos portugueses. E estes só têm de se contentar com favas sucessivas: são eles que pagam sempre os desvarios alheios.

Neste Natal após a "saída limpa", que agora parece ter sido uma "saída encardida", a fava maior foi a do Banif, óptima para pensarmos na consoada sobre o que não desejaríamos para Portugal nem em 2016, nem nos próximos anos. Sobretudo não desejaríamos que a elite fosse económica com a verdade. E que a partilhasse. Algo que só faz no momento de aumentar impostos e de pedir mais sacrifícios a um país pobre. A fava do Banif saiu ao novo Governo, porque o anterior preferiu, com a militante ajuda do Banco de Portugal, apresentar apenas brindes. (…)

O último momento de humor foi da responsabilidade de Cavaco Silva que veio dizer que "observando a Zona Euro, verificamos que a governação ideológica pode durar algum tempo, faz os seus estragos na economia, deixa facturas por pagar, mas acaba por ser derrotada pela realidade". Julgar-se-ia que Cavaco estava a disparar na direcção do Governo de Passos Coelho, o mais ideológico desde o de Vasco Gonçalves, mas não. Os seus alvos são os gregos e, presume-se, António Costa. Há quem não entenda que o pragmatismo é uma fava.»

Fernando Sobral

27.12.15

Dica (189)





«“Vamos fazê-lo como apoio ao programa anti-austeridade [do Governo português]. Estamos a criar uma coligação anti-austeridade por toda a Europa”, disse Jeremy Corbyn ao MorningStar.

“O Governo grego passou por um período terrível e o Banco Central Europeu tratou-o de forma vergonhosa. O caso mais interessante na Europa é agora o do Governo português e o seu programa anti-austeridade”, comentou ainda o líder trabalhista.» 
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Alípio de Freitas – RTP2, hoje, pelas 21:30



Documentário sobre Alípio de Freitas

Para lá da personagem que lutou, o filme é um espaço de encontro e diálogo com a pessoa de Alípio que continua ainda hoje a combater, porventura usando ferramentas diferentes, mas movido pela mesma perseverança.Em Portugal era padre, no Brasil foi revolucionário. Alípio de Freitas mudou-se de Bragança para São Luís do Maranhão em 1957. Deixou a pobreza para viver no meio da miséria. O golpe militar de 1964, que depôs João Goulart, afastou o padre português da igreja e aproximou-o dos comunistas. Zeca Afonso dedicou-lhe uma canção, depois de ele ter sido preso e torturado em 1970. O realizador Tiago Afonso ouviu as suas memórias e os seus ideais. Alípio continua a combater, mas agora usa outras armas.

(Daqui)


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Acudam à direita que a matam!



Uma «pérola» de Rui Cardoso Martins, no Público de hoje.

«Defenestrada a PàF do Palácio do Governo, sequestrado o PS pela, ai que horror Virgem Santíssima, esquerda comunista, só faltava a Paulo Vírgula Portas um novo submarino a explodir na cara dos portugueses: o Banif.»


Na íntegra AQUI.
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O ano em que tudo mudou



Vale muito a pena ler o texto de São José Almeida no Público de hoje. Uma espécie de resumo da matéria, não dada mas vivida.

Excertos:

«Se há um ano lhe dissessem que Pedro Passos Coelho ganhava as eleições legislativas de 2015 e que António Costa as perderia, acreditava? E se lhe acrescentassem que Passos tomaria posse como primeiro-ministro para, passados 12 dias, cair no Parlamento perante uma moção de rejeição do programa de Governo apresentada pelo PS e aprovada com o voto favorável do BE, do PCP e do PEV, daria uma gargalhada de incredulidade? E se lhe assegurassem que horas antes da votação o PS assinou com o BE, o PCP e o PEV, acordos bilaterais, abriria a boca de espanto? E se lhe avançassem em seguida que, apesar de o PS ser o segundo partido no ranking eleitoral, Costa seria empossado primeiro-ministro e o seu programa de Governo salvo no hemiciclo pelo BE, pelo PCP e pelo PEV, da moção de rejeição apresentada pelo PSD e pelo CDS, escangalhava-se a rir?

Pois é. Sem que ninguém sequer imaginasse possível, 2015 foi um ano cheio no domínio da política e nem as mais ousadas previsões conseguiram antecipar a reviravolta que o país viveu. Uma reviravolta que não é apenas formal e reduzível a jogos partidários e parlamentares, representa um corte real com uma maneira de fazer política e uma alteração estrutural no modelo de funcionamento do sistema político português.

De um momento para outro, a forma de funcionar da política institucional mudou. Há quem atribua a viragem a uma necessidade de sobrevivência política e à fome de poder do líder do PS. Mas a facilidade com que Costa o fez indicia que houve uma ruptura mais profunda e que o secretário-geral dos socialistas apenas surfou a onda que já estava em formação. Isto é, que a radicalização à direita que representou a governação do Governo conjunto do PSD e CDS, provocou a resposta à esquerda e abriu espaço a uma mudança no PS que possibilitou o entendimento deste partido com as formações da extrema-esquerda parlamentar. (…)

Quando se viu perder eleições e apenas com 86 deputados (em 2001 tinha tido 74), Costa olhou em volta e avançou para abrir um caminho até então nunca realmente tentado, um acordo à esquerda. Mas ao nível do que é a mudança de regime não basta a disponibilidade de António Costa para fazer história, ou segundo outras análises, a sua vontade de ser poder a todo o custo. Há um factor decisivo: a disponibilidade do PCP para permitir que o PS seja Governo. (…)

Depois de ter sido ultrapassado pelo BE e pelo CDS em número de deputados, ainda que a CDU tenha ganho mais um mandato parlamentar, num total de 17, para obter os seus objectivos estratégicos, o PCP alterou a sua posição táctica e estendeu a passadeira vermelha a Costa. E até o PEV, que ocupa dois dos mandatos conquistados pela CDU ganhou o protagonismo de assinar um acordo com o PS.

Determinante para a solução de Governo do PS com apoio à esquerda no Parlamento foi a anuência do BE. Aliás, a forma como o Bloco de Esquerda deu a volta por cima é um dos acontecimentos políticos do ano. Depois de em Novembro de 2014 ter saído dividido do Congresso e com uma solução de liderança fragilizada que apostava numa direcção colegial e em manter Catarina Martins como porta-voz, o Bloco recuperou eleitoralmente, transformando-se no terceiro partido e mais que duplicando o número de deputados passando de 8 para 19. (…)

Um dos momentos em que Catarina Martins marcou pontos na campanha foi precisamente quando, no final do debate televisivo com Costa atirou para cima da mesa a garantia de que o BE apoiaria um Governo do PS mediante três condições: os socialistas deixarem cair a baixa da TSU, o congelamento e novos cortes nas pensões e prestações sociais e o regime conciliatório de cessação de contractos laborais.» 
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26.12.15

Dica (188)




«Quando souber que o banco vai ser intervencionado, agora diz-se “resolvido”, mexa-se ainda mais depressa. Dívidas e dívidas, endivide muito as suas empresas da constelação Ilhas do Canal-Bahamas-Delaware-Vanuatu, os negócios dos últimos dias são os melhores. Vai tudo desaparecer na voragem, o Estado vai pagar isso tudo, vai incluir a sua dívida no “banco mau” e nos seus incobráveis, e vai portanto compensar o capital que falta ao “banco bom”. A sua dívida é um “activo” que foi desactivado.» 
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Jean Ferrat faria hoje 85



O grande Jean Ferrat, representante típico de gerações de intérpretes politicamente engagés, para sempre ligado a «Nuit et Brouillard» e a tantos outros títulos, o eterno compagnon de route do Partido Comunista Francês, que não hesitou em denunciar a invasão de Praga em 1968.




C'est un nom terrible Camarade / C'est un nom terrible à dire / Quand le temps d'une mascarade / Il ne fait plus que fremir / Que venez-vous faire Camarade / Que venez-vous faire ici / Ce fut à cinq heures dans Prague / Que le mois d'août s'obscurcit.

Mas para além de tudo isto ficará para sempre:


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O melhor ministro do governo AD, não é verdade?



«Situação no hospital de Lisboa levou o BE a interpelar o ex-ministro da Saúde, Paulo Macedo, por quatro vezes.»
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Ausente até aos Reis


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Por que é que se pode acabar com tudo menos com os bancos?



Excertos de um texto de José Pacheco Pereira no Público de hoje:

«A história do Banif é exemplar dos tempos que correm. Ela mostra tudo o que está errado nas políticas europeias e nacionais, se é que se pode falar ainda de “políticas nacionais”. Aliás, o caso do Banif revela até que ponto os governos aceitam ser geridos pela burocracia europeia não eleita, em decisões objectivamente contrárias ao interesse nacional e à sua própria vontade, eles que são eleitos. Este é um dos aspectos mais preocupantes da actual situação política portuguesa e europeia, a utilização muitas vezes abusiva e excessiva, das chamadas “regras” europeias para impor políticas ideológicas conservadoras e soluções que correspondem a interesses particulares de outros países, de outras bancas, de outras economias, a Portugal. Ou pensam que é tudo neutro e “técnico”?

Chegados à porta da burocracia europeia, – e as decisões tomadas sobre o Banif são tomadas pela burocracia de Bruxelas que acha que sabe melhor governar Portugal que o voto dos portugueses, – encontramos uma entidade que não é neutra, que serve os interesses políticos e económicos dos maiores países europeus em que não ousa tocar nem ao de leve, e cujo afã de “uniformização”, sendo típico das burocracias, leva a aplicar critérios que nem a banca alemã cumpre, a economias debilitadas como a portuguesa. Ao impedir a incorporação do Banif na CGD, – que, lembre-se, Passos Coelho queria privatizar, – actuou contra o interesse nacional legitimamente interpretado por um governo eleito. Seria bom que o senhor Presidente da República nos falasse então do “superior interesse nacional”. (…)

O que mostra o Banif? Que os bancos podem falir como qualquer outra empresa, mas que as consequências dessa falência são pagas sempre pelo dinheiro público. (…) A banca é sempre uma excepção e contestar essa excepção, – a da “saúde” do sistema financeiro que claramente está acima da saúde dos portugueses, – é “ideologia” como disse o Presidente da República numa das suas mais ideológicas intervenções em nome da “realidade”.(…)

O Banif falido colocaria em causa a “confiança” no sistema financeiro, faria estragos na economia das ilhas, provocaria mais desemprego no sector bancário, onde ele é já elevado, perderia o estado o dinheiro que lá colocou numa decisão que o governo anterior tem que explicar muito explicadinha? Acredito que sim, várias destas consequências negativas verificar-se-iam, mas os depósitos até 100.000 euros seriam honrados, acima disso seriam perdidos. Não sei quem retirou o dinheiro no dia negro que se seguiu à “notícia” da TVI, mas acredito que muitos estariam na condição de ter mais de 100.000 euros, porque se há coisa que as pessoas hoje “sabem” é do risco de perderem o dinheiro que tem nos bancos. (…)

O governo de António Costa fez bem em ser expedito, mas as críticas que o BE e o PCP e muitos portugueses lhe fazem de não ter rompido com os privilégios especiais da banca pagos com o erário público, tem sentido. Ficou a promessa de que será o último caso e, quando o Novo Banco regressar à mesa do orçamento, espero bem que não se repita o que se passou com o Banif. (…)

É que para sairmos desta lama que nos tolhe temos que pensar diferente, falar diferente, e fazer diferente. Nem que seja pouco diferente, visto que, como isto está, basta um pouco de diferença para parecer uma revolução. Por isso, ó ideólogos, valia a pena ser mais economicamente liberal com os bancos e menos com as pessoas, mas isso hoje parece radicalismo.» 
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24.12.15

Póstumos Natais



Ladainha dos póstumos Natais

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro
em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira, in «Cancioneiro de Natal»
 

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É o que se pode arranjar


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Entrevista com Deus - balanço de 2015



«Negócios: Em tempo de balanços, pareceu-nos correcto entrevistar a mão que embala o berço da humanidade. Connosco, para fazermos um resumo de 2015, temos, Deus.

Olá, Deus. Obrigado por estar aqui hoje, quando, provavelmente, preferia estar a fazer as compras de Natal.

Deus: Eu não festejo o Natal. O Natal é uma festa do consumismo. Uma espécie de sonho húmido do ministro Centeno. Eu só festejo a austeridade. Mas festejo em grande. (…)

Negócios: Como viu as eleições no nosso país. Acha que Costa fez batota?

Deus: Eu não quero mistura com políticos. Sou um bocado como deputado do PAN. Estou lá, mas é como se não estivesse. Confesso que sei o que se passa na vossa Assembleia da República mas, não é por querer, é porque a Heloísa Apolónia fala muito alto. (…)

Deus: Eu estive para impedir a aliança de esquerda em Portugal. Não fosse o discurso de vitória do Marco António Costa e agora o PàF era Governo. Mas aquilo irritou-me. Ai, já ganhámos e vamos ser Governo – não é assim.

Negócios: O futuro a Deus pertence.

Deus: Não é isso. Detesto gente que maltrata a Matemática. O meu filho era péssimo. Porque é que acha que o enviei à Terra?

Negócios: Para nos salvar a todos?

Deus: Não. Foi castigo por causa das notas a Matemática. É inadmissível que escrevam, sobre o filho de um Deus perfeito: "Jesus Cristo que não sabia nada de finanças". O meu filho só era bom com parábolas.
A Matemática é a mãe do Universo. Andámos uns anos, mas ela fugiu com um sociólogo. Por isso é que eu enviei o Crato à Terra: para que todas as crianças do quarto ano soubessem cálculo integral e brincassem com integrais no recreio.

Negócios: Houve alguma coisa que tenha feito em 2015 de que se tenha arrependido?

Deus: Nem por isso. Até porque se eu quiser volto com o tempo atrás e faço outra vez. Mas talvez tenha estado pouco atento ao drama dos refugiados. Confiei na Europa. Não se pode. Para o ano estou a pensar fazer uma guerra mundial para ver se voltam a recuperar os grandes princípios e ideais europeus. É matemático.»

23.12.15

Quem fala assim não é gaga



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Pedro Tamen: Não Digo do Natal



Não digo do Natal – digo da nata
do tempo que se coalha com o frio
e nos fica branquíssima e exacta
nas mãos que não sabem de que cio

nasceu esta semente; mas que invade
esses tempos relíquidos e pardos
e faz assim que o coração se agrade
de terrenos de pedras e de cardos

por dezembros cobertos. Só então
é que descobre dias de brancura
esta nova pupila, outra visão,

e as cores da terra são feroz loucura
moídas numa só, e feitas pão
com que a vida resiste, e anda, e dura.

Pedro Tamen, in Antologia Poética 
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Cavaco Silva. Aguente, aguentem!



E veja-se AQUI quanto tempo falta para o adeus.
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Esta não é a minha praia


O Orçamento Rectificativo do governo do PS acaba de passar na Assembleia da República com abstenção do PSD e votos contra de BE, PCP, PEV, CDS e PAN. Continuamos no mundo de TINA (There Is No Alternative)? Talvez, mas esta não é a minha praia. 
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O vento de Espanha



«O bipartidarismo implodiu, mas não desapareceu. Há em Espanha uma sensação de ingovernabilidade, mas a chegada do Podemos serviu para que a questão da corrupção passasse a ser vista com outros olhos e a do Ciudadanos permitiu que a ilusão autonómica (sobretudo na Catalunha) tivesse de descer à terra. PP e PSOE ganharam, mas perderam.

Notícias do solstício de Inverno que chegou mais cedo a Espanha. Mas não deixa de ser curioso como Espanha e Portugal estão hoje ligados como ramos da mesma árvore ibérica, da mesma crise europeia, da mesma divisão Norte/Sul. O discurso vencedor de Mariano Rajoy parecia fotocopiado do de Passos Coelho na noite da vitória. Talvez cortesia do PPE, que manda um resumo para todos os partidos irmãos. Ganhámos, mas sem maioria, mas devemos ser chamados para governar.

Rajoy, como Passos Coelho, será. Mas que fará com a sua vitória, se a direita urbana, muito semelhante ao nosso PP (do Ciudadanos), não tem deputados suficientes para lhe dar conforto parlamentar? O PSOE, com o resultado mais magro possível, consolou-se à sua maneira. Mas ficou refém do Podemos, o único partido que efectivamente ganhou, e que agora vive um momento de decisões estratégicas leninistas: como ocupar o poder? PSOE e Podemos estão condenados a destruir-se pelo mesmo território, mas podem tentar um beijo de morte, para imitar a solução portuguesa, que é diferente: o PS continua a ter um poder superior ao BE ou ao PCP.

Nada disto é indiferente para Portugal e para a Europa. A via da austeridade como "solução única" sofreu mais uma derrota no sul. E a Espanha não é Portugal: é uma das economias musculadas da Europa. Se espirrar a contaminação é grande. É aí que António Costa, com a intranquilidade que os resultados de Espanha trazem, poderá ganhar espaço para uma situação melindrosa que tem de gerir. Como se viu no caso do Banif e se verá no problema do défice, da dívida, do OE de 2016 e no Novo Banco. Sem falarmos de outras minas e armadilhas que a "destruição criativa" de Passos Coelhos e dos magos teóricas do pretenso "liberalismo" que tentam enxertar na vida dos portugueses, deixaram como memória e herança.

A Espanha não poderá andar muito tempo numa crise de governação, porque a pressão das autonomias e a fórmula de ajuste externo em forma de ajuda aos bancos não esconde tudo. A grande Natália Correia dizia que "somos todos hispanos". Não se sabe. Mas agora estamos muito próximos de o ser.»

Fernando Sobral

22.12.15

Pelo menos que se salvem estes



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É tudo o que tenho a dizer



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Gedeão - Dia de era bom



Dia de Natal

Hoje é o dia de era bom.
É dia de passar a mão pelo rosto das crianças,
de falar e de ouvir com mavioso tom,
de abraçar toda a gente e de oferecer lembranças.


É dia de pensar nos outros- coitadinhos- nos que padecem,
de lhes darmos coragem para poderem continuar a aceitar a sua
miséria,
de perdoar aos nossos inimigos, mesmo aos que não merecem,
de meditar sobre a nossa existência, tão efémera e tão séria.

Comove tanta fraternidade universal.

É só abrir o rádio e logo um coro de anjos,
como se de anjos fosse,
numa toada doce,
de violas e banjos,
Entoa gravemente um hino ao Criador.
E mal se extinguem os clamores plangentes,
a voz do locutor
anuncia o melhor dos detergentes.


De novo a melopeia inunda a Terra e o Céu
e as vozes crescem num fervor patético.
(Vossa Excelência verificou a hora exacta em que o Menino Jesus
nasceu?
Não seja estúpido! Compre imediatamente um relógio de pulso
antimagnético.)


Torna-se difícil caminhar nas preciosas ruas.
Toda a gente se acotovela, se multiplica em gestos, esfuziante.
Todos participam nas alegrias dos outros como se fossem suas
e fazem adeuses enluvados aos bons amigos que passam mais distante.


Nas lojas, na luxúria das montras e dos escaparates,
com subtis requintes de bom gosto e de engenhosa dinâmica,
cintilam, sob o intenso fluxo de milhares de quilovates,
as belas coisas inúteis de plástico, de metal, de vidro e de
cerâmica.


Os olhos acorrem, num alvoroço liquefeito,
ao chamamento voluptuoso dos brilhos e das cores.
É como se tudo aquilo nos dissesse directamente respeito,
como se o Céu olhasse para nós e nos cobrisse de bênçãos e favores.


A Oratória de Bach embruxa a atmosfera do arruamento.
Adivinha-se uma roupagem diáfana a desembrulhar-se no ar.
E a gente, mesmo sem querer, entra no estabelecimento
e compra- louvado seja o Senhor!- o que nunca tinha pensado
comprado.


Mas a maior felicidade é a da gente pequena.
Naquela véspera santa
a sua comoção é tanta, tanta, tanta,
que nem dorme serena.


Cada menino
abre um olhinho
na noite incerta
para ver se a aurora
já está desperta.
De manhãzinha,
salta da cama,
corre à cozinha
mesmo em pijama.


Ah!!!!!!!!!!

Na branda macieza
da matutina luz
aguarda-o a surpresa
do Menino Jesus.


Jesus
o doce Jesus,
o mesmo que nasceu na manjedoura,
veio pôr no sapatinho
do Pedrinho
uma metralhadora.


Que alegria
reinou naquela casa em todo o santo dia!
O Pedrinho, estrategicamente escondido atrás das portas,
fuzilava tudo com devastadoras rajadas
e obrigava as criadas
a caírem no chão como se fossem mortas:
Tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá-tá.


Já está!
E fazia-as erguer para de novo matá-las.
E até mesmo a mamã e o sisudo papá
fingiam
que caíam
crivados de balas.


Dia de Confraternização Universal,
Dia de Amor, de Paz, de Felicidade,
de Sonhos e Venturas.
É dia de Natal.
Paz na Terra aos Homens de Boa Vontade.
Glória a Deus nas Alturas.



António Gedeão
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Dica (188)

O dinheiro tem cheiro


«Portugal tem descoberto, nos últimos anos, que, pelo contrário, o dinheiro tem aromas de difícil remoção. Sentiu isso com o BPN, com o BPP e com o BES. Está agora a entender-se que o Banif não foi, em tempo próprio, sujeito a uma lavagem com sabão macaco. E que agora aí está, para que os portugueses paguem mais uma máquina de lavar roupa suja por mãos invisíveis.

Não deveria ser uma sina. Mas começam a ser demasiadas ilusões estilhaçadas para um país tão pequeno. (…)

As eleições não podem explicar tudo. Ou podem? Passos Coelho, Maria Luís Albuquerque e Carlos Costa não podem simplesmente dizer que Alice vivia no país das maravilhas do Banif e que, por isso, ficaram extasiados com o néon das suas cores.

Vendido por um preço qualquer, a situação a que chegou o Banif representa a falência de um modelo ideológico que acreditava que a auto-regulação era a solução para todos os problemas. Agora, nem Hércules limparia tudo o que ficou escondido debaixo da cama de interesses que não são muito claros.

Pode ter sido uma questão de romantismo medieval a inacção dos responsáveis do anterior Governo e do BdP até há pouco tempo. Só que o dinheiro, nesta era em que é escasso, sai caro aos portugueses e tem cheiro. Como mostra o FMI, quando, abrindo o coração, diz que a reestruturação da dívida deixou de ser um assunto tabu. O Banif foi vendido em saldo. Quase oferecido. Só que o assunto não morre aqui. O banco vive. As culpas não podem morrer solteiras.»

Fernando Sobral

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21.12.15

Espanha: é isto, qualquer que seja o desfecho

Os responsáveis pela morte do 7º banco português



Nicolau Santos, Expresso diário, 21.12.2015.
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Espanha em marcha



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Dica (187)




«Muitos dos responsáveis desta calamidade passam entre os pingos da chuva. Alguns são reciclados para outras prebendas e pavoneiam-se na praça dos interesses. Continuam a achar-se grandes gestores pagos a preço de ouro. Outros vieram encartados pela política para servirem, promiscuamente, interesses estranhos à actividade. Todos se especializaram em capitalistas de passivos.» 
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