Diplomatas colocados em países caros querem ser aumentados.
Eça de Queiroz, Uma Campanha Alegre
(recordado por António Russo Dias, no Facebook)
«Os diplomatas portugueses passam por agradar no estrangeiro pela sua palidez! Mas não se sabe que a sua palidez vem, não da beleza da raça peninsular, mas da fraqueza de legação mal alimentada. Onde um embaixador português mais se demora, não é diante das instituições estrangeiras com respeito, é diante das lojas de mercearia com inveja! E se eles não podem alcançar bons tratados para o País – é porque andam ocupados em arranjar mais rosbife para o estômago. Se não fossem os jantares da corte e as ceias dos bailes, a posição do diplomata português era insustentável. E ainda veremos os jornais estrangeiros, noticiarem:
“Ontem, na Rua de… caiu inanimado de fome um indivíduo bem trajado. Conduzido para uma botica próxima o infeliz revelou toda a verdade – era o embaixador português. Deram-lhe logo bifes. O desgraçado sorria, com as lágrimas nos olhos.”
Que o país atenda a esta desgraçada situação! Que tenha um movimento generoso e franco! Dê aos seus embaixadores menos títulos e mais bifes! Embora lhes diminua as atribuições, aumente-lhes ao menos a hortaliça. Eles pedem ao seu país uma coisa bem simples: não é um palácio para viver, nem um landau para passear, nem fardas, nem comendas! É carne! Que o País no número do pessoal diplomático – diminua os adidos e aumente os bois.»
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1 comments:
V.Pulido Valente acerta muito bem no sindroma do Palácio das Necessidades: propôs há uns anos a esta parte a redução em 50 por cento das nossas representações diplomáticas. Razões que invoca, e com que concordo: inoperância teórica, aguda mediocridade cultural e civica, e falta de independência politica verdadeira dos nossos agentes diplomáticos...Há as honrosas excepções da praxe, é claro.Mas são muito poucas e era melhor centralizar/concentrar a actual rede, poupando-se muito dinheiro e evitando situações funestas e canhestras. Mas, para apurar tal designio, era preciso estimular um 50 de Abril, tal a potência do mal e os sintomas de decadência. Niet
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