1.4.15

PS e o equilíbrio impossível



Um grande texto de Adelino Fortunato, no Público de hoje: 

«António Costa venceu as primárias e foi eleito no congresso do PS em pleno estado de graça. A natureza baça do seu antecessor tinha colocado o partido no impasse e sem perspectivas de descolagem em relação à coligação que suporta o Governo. (...)

Não é, certamente, um problema de falta de carisma ou de habilidade para a manobra política, como supostamente acontecia com António José Seguro. Costa provou largamente à frente da Câmara de Lisboa, ou mesmo em cargos governativos e parlamentares, ser um peso-pesado da política portuguesa. Trata-se de um mal muito mais profundo que afecta de forma letal o percurso de qualquer dirigente da área da social-democracia contemporânea — o grande envolvimento com a política neoliberal e a impossibilidade de encontrar um projecto alternativo. (...)

Eis as verdadeiras dificuldades do PS. Em tempos normais o silêncio e o ziguezague ao sabor das manchetes que vão atraindo as atenções seriam suficientes para ganhar eleições, até com maioria absoluta. Que o digam Barroso, Guterres ou Sócrates (para não falar de Cavaco) que se limitaram a aproveitar o clima de insatisfação em relação aos seus antecessores com uma vaga promessa de mudança. Mas o período que vivemos não é certamente o da “normalidade” e o da pura gestão das expectativas com o objectivo de as manipular. A fractura e a ruptura predominam nas grandes opções da vida política nacional e internacional e o PS entende-se mal com isso. (...)

A grande lição é clara. O PS só poderia aspirar a ganhar eleições com maioria absoluta se estivesse disponível para mobilizar a população portuguesa em torno de um projecto de negação consequente da austeridade, correndo todos os riscos que daí pudessem decorrer, incluindo o confronto com as instituições da União Europeia, reestruturação da dívida, saída do euro ou violação das regras do tratado orçamental. Mesmo que o resultado final não fosse necessariamente esse.

Neste sentido António Costa é um player derrotado deste jogo: as estratégias que sugere não envolvem os compromissos que poderiam assegurar credibilidade na luta contra a capitulação e a aceitação da austeridade. Esses compromissos terão de fazer o seu caminho na esquerda, no pressuposto de que a maioria da população portuguesa começa a revelar grande impaciência com a falta de uma alternativa eficaz e mobilizadora que ultrapasse o equilíbrio impossível apontado pelas sugestões mais convencionais.» (Os realces são meus.)
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