Na sequência de um texto publicado há duas semanas e que aqui referi, Manuel Loff escreve hoje, no Público, um segundo artigo de opinião sobre os mesmo temas. Ambos se inscrevem na linha do Manifesto para uma esquerda que responda por Portugal, de que foi o primeiro subscritor.
«Desde que a crise se instalou no nosso país, os eleitores portugueses passaram a castigar mais duramente cada governo na eleição seguinte do que o fizeram no passado. Até 2011 não deixaram de usar os dois jogadores do rotativismo para o fazer: o PS contra o PSD, o PSD contra o PS. Ao fim de quatro eleições desde 2002, verificam, mais rapidamente que no passado, que não têm conseguido mudança alguma. Muda o condutor, mas o trajeto é o mesmo.
A grande maioria de quem votar, não se duvide, vai querer castigar a direita de Passos e Portas como já o fez, por muito menos, em 2005. A grande diferença é que o velho instrumento que usavam – o PS – parece-lhes ainda menos fiável do que antes. Já em 2011, ele próprio foi castigado por ter começado a mesma austeridade que a direita logo veio agravar. Só quem acredita que os portugueses escolherão simplesmente entre o mau e o menos mau acredita que o PS de Costa ganhará o apoio deste oceano de descontentes e vencerá confortavelmente as eleições. 2015 não é 2005, muito menos os anos 80 ou 90. (...)
A mudança também não virá daqueles que têm alimentado esta mentira de que o PS não dança à esquerda porque não tem par disponível. Quem deixou voluntariamente de estar à esquerda não quer dançar com ela. É por isso que os novos pretendentes a dançar com o PS não são nenhuma versão portuguesa do Podemos espanhol ou do Syriza.
A mudança que mude a sério o curso da nossa vida colectiva, emancipe o Estado da tutela de Bruxelas, do FMI e dos grupos económicos que já sequestraram uma parte importante dos nossos recursos, e retome o caminho da democracia social, só chegará se a esquerda que nunca deixou de ser de esquerda e que se compromete a romper com a austeridade reunir força política suficiente para obrigar à viragem. A tal ponto que seja alternativa viável ao PS e à direita. Aqui como em Espanha, como na Grécia, como em toda a Europa. Essa esquerda – a CDU e o Bloco, fundamentalmente – pode continuar a apresentar-se separada às eleições, apesar de ter saído junta à rua nas grandes manifestações dos últimos anos, partilhar militância sindical, votar da mesma forma no Parlamento. Mas acho que já deveria ter percebido que, dessa forma, limita a sua capacidade de atracção de muitos daqueles que querem forçar a mudança mas que não acreditam que ela se faça no mesmo quadro político que até agora tivemos. Este deveria ser o momento para discutir, abertamente e sem sectarismos, a cooperação entre quem, ao longo destes anos, assegurou o enorme esforço de resistência à devastação social, mas que, oferecendo em separado propostas coerentes e sem ambiguidades contra a austeridade, arrisca-se muito a não conseguir transformar em votos a maioria da mobilização cidadã destes anos. A memória das tensões vividas na resistência e na Revolução é muito da identidade de comunistas e bloquistas – mas não é uma memória vivida na primeira pessoa pela grande maioria dos seus activistas e dos seus eleitores. O Bloco nasceu cheio de preconceitos políticos e culturais contra o PCP; uma grande parte dos comunistas responde(u)-lhe na mesma moeda. Ao fim de 16 anos, e das tensões internas por que os dois partidos passaram (o PCP em 2000-02, o BE em 2011-13), a verdade é que se têm encontrado no mesmo lado da barricada. Em tempos excepcionais, parece-me evidente que deveriam dar passos excepcionais. E mostrar a quem não se resigna a que tudo fique na mesma que eles partilham um espaço comum onde, no respeito da diversidade, se não trai a confiança. E que pode ser decisivo.» (Realce meu.)
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