José Pacheco Pereira, no Público de hoje:
«Que papel tem o esquecimento na actual campanha eleitoral?
O esquecimento e a memória selectiva, que é outra forma de manipular a memória, são duas armas centrais no discurso político das eleições de 2015, quer para a coligação PSD-CDS quer para o PS.
O PS estará sempre sob a sombra da prisão e das acusações a José Sócrates. É uma sombra que não vai diminuir mas aumentar, até porque as peripécias do processo vão ganhar novas características, logo maior atenção mediática. E Sócrates precisa de “usar” a seu modo a campanha eleitoral para obter leverage na opinião pública e no PS.
Embora o processo que levou à bancarrota tenha causas próximas e dele não estejam distantes o PSD e o CDS, e essas causas próximas sejam muito importantes para explicar o que aconteceu — até porque a bancarrota não estava “inscrita nas estrelas” —, a coligação vai usar o trauma da memória da véspera do dia “em que não havia dinheiro para pagar salários e pensões”, para demonizar não só a governação Sócrates mas o “socialismo”. Este “socialismo” inclui os governos de Cavaco Silva, mesmo que não o nomeie.
Este vai ser o aspecto mais ideológico da campanha, o seu conteúdo crítico do “Estado social”, aliás de qualquer papel do Estado, com excepção do Estado fiscal e repressivo e o abandono de qualquer perspectiva social-democrata por parte do partido que usa esse nome. Como o artista “antigamente conhecido como Prince”, durante algum tempo, um nome impronunciável, também o “social-democrata” do nome do PSD permanecerá impronunciável. No entanto, durante a campanha eleitoral o artistavai-nos de novo dizer que este nome se pronuncia “social-democrata”, para desgosto dos puristas neoliberais que sempre acharam que o PSD não é confiável, embora confiem, e muito, em Passos.»
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