«Se o Brasil é a pátria em chuteiras, Portugal é o país em bandeiras de clubes de futebol. Sabe-se que o futebol português é uma espécie de refém do acaso. Por acaso ganhamos. Por acaso perdemos.
Nunca se ganha esmagadoramente. Nunca se perde porque fomos humilhados. Entre o acaso há a sorte e o azar. E as contas matemáticas. Portugal por estes dias está refém do mundo de Midas de Jorge Jesus, a começar pelo dinheiro que vai ganhar por ano num país que emagreceu devido à dívida, ao défice e à austeridade. Este, claro, é o país onde a austeridade não chegou ao futebol, como se pode ver. Mas, contra o futebol, a política encolhe-se, porque gosta de se fazer fotografar com as suas vitórias. (...)
O futebol continua a ser, neste país, uma boa forma de entendermos melhor a superestrutura política, nas suas alianças, conciliações, interesses, cumplicidades manhosas e negócios menos transparentes. Talvez isso seja a fragilidade de sermos um país latino, mesmo que não tenhamos as emoções são ácidas como espanhóis ou italianos. Mas tudo não deixa de ser um jogo medíocre, feito de personagens de duvidosas qualidades. O que se assiste na transferência de um treinador e no despedimento de outro mostra a decadência nacional. Onde os valores estão em saldo.» (Realces meus)
Fernando Sobral
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