1.6.15

As árvores ainda morrem de pé?



«Nada muda nem se transforma. Em finais do século XIX, Oliveira Martins escrevia: "Baixa o câmbio? Aparece cá o mal-estar, porque o mais líquido dos rendimentos portugueses é o dinheiro que vem constantemente em troca da nossa exportação anual de gente". Olhe-se para os resultados do "programa de ajustamento": impostos insuportáveis e emigração brutal. Em troca de quê? Do dinheiro que nos permite continuar a navegar à tona de água e do que vai permitindo continuar a alimentar grupos de interesses que sobrevivem a todas as catástrofes. É certo que Portugal é um país pacato: é mais fácil o Marquês de Pombal encher-se para celebrar a vitória de um clube do que um largo qualquer se encher de gente a clamar contra a discussão vergonhosa sobre as pensões e a segurança social a que assistimos, como se isso não implicasse o futuro de muita gente. Há muitos anos a RTP transmitiu uma das peças de teatro que ficaram na memória colectiva, com a grande Palmira Bastos: "As Árvores Morrem de Pé". Nela, uma frase soava como definidora de uma resistência que Portugal deveria ter face a esta insignificância que ocupou o país: "Morta por dentro, mas de pé, de pé, como as árvores".»  

Fernando Sobral

0 comments: