7.6.15

Dois projectos para a Europa?



«A Comissão Europeia vai perdendo poder, o BCE (poder não eleito, recorde-se) é o único organismo com alguma capacidade de manobra, e as decisões estão agora cada vez mais nas mãos do Parlamento e diferentes conselhos onde Alemanha e França têm maiorias imbatíveis. E estes dois países em vez de procurarem um objectivo comum, vigiam-se e estorvam-se. A Europa unida é isto. E Portugal, devoto de Berlim, deixou de ter uma opinião sobre o seu próprio lugar na Europa. Como se não tivesse voz. Por isso hoje o debate que se trava na Europa (sobretudo se a união fiscal deve seguir a monetária) não é debatida pelos principais partidos políticos. Só a pequena política interna conta. E isso dá-nos a ideia da pobreza dos ideários políticos nacionais. (...)

Seja como for, por estes dias, a Europa move-se. Nas páginas do "Le Point", o antigo presidente francês, Valéry Giscard d'Estaing, escrevia que era necessário uma clarificação: "Desde logo reconhecendo sem ambiguidade a existência de dois projectos na Europa: um projecto de integração monetária, orçamental e fiscal", que interessa aos países da Zona Euro (de que a Grã-Bretanha não faz parte) e um espaço a 28 de "liberdade comercial que tem uma necessidade imperiosa de ser limitada e renovada". D'Estaing defendia mesmo a "integração fiscal e a gestão comum da dívida", criando um poder forte na Europa.

Emmanuel Macron, o ministro da Economia de França reforça a ideia: é preciso uma Europa "a duas velocidades", uma da Zona Euro (com orçamento comum, capacidade de endividamento comum e convergência fiscal) e outra mais simples, a 28. Sigmar Gabriel, do SPD alemão, e colega de coligação de Angela Merkel, defendia o mesmo. Isto é um claro aviso a Portugal e ao seu futuro na zona euro: se esta tese avançar, o que não é certo, como é que uma economia débil como a nossa sobreviverá num espartilho destes, guiado dos pelos interesses alemães e franceses? É uma pena que isto não faça soar alarmes nas lideranças do PSD, do CDS e do PS, que poderão ter pela frente um desafio muito problemático nos próximos tempos. Para lá dos seus jogos eleitorais, das promessas de estabilidade e crescimento e dos pequenos sonhos que ainda se propõem cumprir.»

Fernando Sobral

0 comments: