30.7.15

A estátua de sal



«O Antigo Testamento alertava sobre os perigos de passarmos a vida a olhar para o passado. Em Portugal, temos essa tentação. Na área política esse discurso é evidente: antes de nós, a peste; depois de nós, o dilúvio.

O confronto político sem quartel dos próximos meses vai ser semelhante. Tal como a mulher de Lot que olhou para trás e se transformou numa estátua de sal, as ideias que vamos escutar parecerão pedregulhos. PSD e CDS cavalgarão no delírio despesista de Sócrates. O PS na alucinação austera dos partidos do Governo. Vai lavar-se a roupa suja do passado e dela não nascerá roupa branca. Porque o mal dessa guerrilha folclórica é que se vai esgotar a si própria sem trazer para o debate o futuro de Portugal.

O relatório do FMI que refere que Portugal só deve ter desemprego abaixo de 7% daqui a 20 anos é suficientemente negro para mostrar o nó górdio em que o país está encerrado. (...).

Quando um dia destes nos confrontar a ideia de um "mar europeu" neste país que tem uma ZEE própria, enorme e repararmos que alemães, franceses e espanhóis poderão ter direitos iguais nela, veremos do que falamos. Os ciclos do despesismo e da austeridade são as duas faces da mesma moeda: a inexistência de um projecto para Portugal.»

Fernando Sobral

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