27.7.15

Dizem que foi gralha



«O Governo redigiu, como se fosse uma redacção, um simpático documento onde olha para o umbigo. No meio das felicidades conquistadas tropeçou num pedregulho: diz que os mais pobres foram afectados pela crise.

É uma gralha, clama o Governo. A intenção dos redactores de serviço era dizer que os mais pobres foram menos prejudicados do que os mais ricos. Nada que admire: os membros do Governo trocam tantos números à sua vontade que, muito provavelmente, vivem numa realidade virtual onde já não sabem o que é realidade e o que é alucinação. (...)

A redacção do Governo faz parte da ideia de que o país vive numa escola primária e come tudo o que se lhe põe diante dum prato. O Governo consegue dizer que a dívida pública está a descer. Onde? Nas Berlengas? Sobre a emigração diz-se nada. O brutal aumento de impostos é varrido para debaixo da cama. Os cortes nas pensões e nos salários devem também ter ocorrido em Marte. Ou seja, na redacção do Governo, há muitas mais gralhas do que aquela que foi detectada. Para o Governo parece ser um baralho de cartas: reparte e dá. Como se as suas acções e omissões não tivessem tido efeitos devastadores na vida dos cidadãos. Esta redacção é um bocejo. Apetece dormir quando o lemos. O problema é que o Governo acredita no que diz.»

Fernando Sobral

1 comments:

inconfessável disse...

Já me rio, quando devia era chorar e bramar.
Tudo é grave, mas o pior é o governo acreditar no que diz: que melhorou o país.