Nas eleições de ontem, houve vencedores e vencidos apesar de não estarmos em campeonatos de futebol. A democracia tem as suas regras e os seus preços.
1 – Por um voto se ganha e o PàF ganhou. Não vale a pena falar de derrota. Perdeu 700.000 votos relativamente a 2011? Sim, mas aguentou-se depois de quatro anos que deviam ter sido arrasadores em termos eleitorais. Preocupante? Certamente, mas foi assim.
2 – O maior vencido foi António Costa que arrastou com ele o PS. Desperdiçou o capital de popularidade que a vitória interna no partido lhe dera e nem lhe terá passado pela cabeça que a vitória nas eleições de ontem não seria um passeio de Outono. Convenceu-se de que o PS podia ter um programa que agradasse ao senhor Schaeuble e a uma maioria esmagadora de portugueses – e enganou-se. Nem conseguiu diminuir a abstenção que, afinal, foi a maior de sempre e, como se tudo isto não fosse suficiente, fez uma má campanha, unipessoal, aos gritos e com tiros em tantos pés que uma centopeia não desdenharia. Cereja em cima do bolo: o mau e displicente discurso de derrota, que fez ontem à noite. O PS só pode queixar-se de si próprio e não vale a pena atirar culpas à esquerda e à comunicação social quando nem o desesperado apelo ao «voto útil» lhe valeu!
3 – Outros vencidos foram os novos pequenos partidos, nomeadamente os que resultaram de cisões no Bloco, com destaque para o Livre / Tempo de Avançar. Será interessante, muito interessante, seguir o seu futuro próximo...
4 – Vencedores? Antes de mais o Bloco de Esquerda, sem dúvida, pelos resultados que excederam todas as expectativas ao mostrarem um partido vivo e convicto, com mensagens claras, de gente nova e menos nova (não há só duas ou três «meninas», não, olhe-se para o novo grupo parlamentar...). Catarina Martins, as irmãs Mortágua, mas também José Manuel Pureza, José Soeiro e outros 14, lá estarão em S. Bento. E os outros, os «velhos» Louçã, Rosas e Fazenda, não desertaram.
O PCP manteve-se quase igual a si próprio, crescendo um pouco. Bloco e PCP terão agora cerca de mais 1/3 dos deputados que tinham na legislatura anterior, 27% dos 230 – uma vitória indiscutível da esquerda anti-austeritária.
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Os dias, meses e anos que se seguem serão certamente muito duros e cheios de incertezas. Mas o mundo não acabou ontem e, como escreveu já hoje Mariana Mortágua, «o tempo é de esperança e serenidade. Que todas as forças políticas saibam estar à altura do desafio».
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3 comments:
A abstenção foi a maior de sempre ? Ontem os noticiarios e jornais apontavam para uma provavel diminuição em relação a 2011. Afinal é o contrario ?
Foi a maior de sempre, em legislativas: 43,07%. Toda a comunicação social o anunciou ontem, as primeiras notícias não estavam correctas.
OK, obrigado.
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