«A dívida e o défice empobreceram Portugal. E não apenas economicamente. A mentalidade, a diversidade e a criatividade modelaram-se a estes novos tempos. Estes anos de austeridade abriram uma nova clivagem na sociedade portuguesa, entre quem quer, sendo cada vez mais uma classe média "remediada", alguma segurança enquanto conta os trocos que sobram do brutal aumento de impostos, e uma radicalidade que começa a engordar eleitoralmente, como mostra o poder do BE.
No fundo esta é a receita da Europa, desta União Europeia em que a "democracia" é um disfarce que serve para iludir um sistema cada vez mais centralizado, defensor do individualismo radical e moralmente duvidoso. (...)
Sendo Portugal um país periférico, perfeito para ser um laboratório da nova sociedade que se adivinha, mais pobre e nivelada culturalmente, transformando os cidadãos em consumidores, estes resultados eleitorais demonstram também que se está a atingir o zénite de uma transformação mais profunda. Em que o projecto social-democrata, assente nas pujantes classes médias pós-II Guerra Mundial, está em riscos de falir.
O modelo arquitectado na Inglaterra de Margaret Thatcher venceu: ideologicamente e culturalmente. (...)
Será sempre assim? É duvidoso. Porque em todas as épocas as hegemonias que pareciam eternas acabaram por implodir. Mas, para já, é este clima de "consenso" que prevalece e que motivou cerca de 80% dos portugueses que votaram nos partidos do chamado "arco do poder". Fingindo que a pobreza disfarçada que se tornou o paradigma deste novo Portugal pós-troika não é com eles. Mas, com esta dívida externa, é este jogo de xadrez que todos irão jogar.»
Fernando Sobral
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