José Cardoso Pires nasceu em 2 de Outubro de 1925 e já se foi embora há 17 anos – tempo a mais, era excelente que ainda por aqui andasse.
Tive a sorte de o conhecer. Poderia descrever aqui como, pelo mais puro dos acasos, almoçámos juntos, perto do Largo do Carmo, no dia 25 de Abril de 1974; os sustos que apanhávamos, nesta casa, quando ele (que nunca se entendeu bem com automóveis) saía guiando o carro a 20 km à hora, depois de larguíssimas horas de conversa e de uns tantos copos de wkisky; como se comia bom peixe num barracão em plena praia da Caparica, «Tricana» de seu nome.
Deixo um apontamento sobre um episódio passado há décadas. Na mais total das inconsciências, eu julgava então que, para um escritor como ele, a prosa fluía espontaneamente, «ao correr da pena» no sentido estrito da expressão. Daí a minha perplexidade quando, no andar da Costa onde se refugiava, ele ia escrevinhando coisas, aparentemente mais do que banais, que íamos dizendo numa conversa a três. Mostrou-me então longas tiras de papel onde punha palavras, pequenas frases e trocadilhos para mais tarde utilizar. Disse-me também que uma das maiores preocupações, nas sucessivas revisões que fazia dos seus textos, era tirar adjectivos. Mal eu sabia quanto esta conversa, que nunca esqueci, viria a ser-me útil muitos anos depois.
Não sei se estas vivências tiveram ou não uma influência decisiva para que ele seja, desde há muito, o meu autor português preferido. Julgo que sim, é bem provável que sim.
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