«Nunca uma campanha para a Presidência teve tanto destaque nos media. Há debates a dois, a três, a cinco, a dez! Três frente a frente à mesma hora em canais diferentes, e não é novela. (…)
Sabendo que até podemos pôr Marcelo a debater com Marcelo, porque Marcelo diz uma coisa e o seu contrário, é difícil apanhá-los em concordância. Podemos tapar o ecrã da TV e jogar Master Mind com os candidatos, que estão em estúdio, a fazer de pinos. Na passada segunda-feira, vi o candidato Tino em dois canais ao mesmo tempo. Se há alguém capaz de parecer omnipresente é o Vitorino de Rans. Cansa. "Qual é a sua maior referência?" "Ramalho Eanes." "Porquê?" "Porque sim."
Não sei se é boa ideia esta dose maciça de debates. Corremos o risco de o próximo Presidente chegar ao primeiro dia de mandato com o estado de graça já gasto. Todos mais fartos dele do que do anterior ao fim de um ano. Apanhamos uma dose tão grande de debates com esta gente que, no dia das eleições, ganha o Cândido Ferreira porque se baldou aos debates todos. (…)
Preferia que os debates fossem em eliminatórias. Por exemplo, Marcelo-Tino a eliminar. Um mata-mata. Um candidato popularucho e o Tino de Rans. Ou um Paulo Morais contra a cadeira vazia de Cândido Ferreira. Tanto fazia, porque o Paulo Morais só ia lá falar da corrupção. (…)
Fazendo um ponto da situação, ninguém está verdadeiramente feliz com os candidatos à Presidência. Claro que damos desconto porque é para ir substituir Cavaco Silva. É como se nos tivessem estado a fazer tratamento de canais e agora chegámos à fase em que só temos de escolher de que cor queremos a massa. Naqueles momentos em que vemos Jorge Sequeira, com óculos de soldar, a fazer trocadilhos e inversões com a língua portuguesa - a demo-cracia não pode ser do demo. A democracia não é obra do demónio, mas do povo. Uma povocracia , conseguimos suportar quase sem crítica porque nos lembramos das vacas que sorriem e dos bancos que estão sólidos.»
João Quadros
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