«Quando, há alguns anos, os GNR cantavam sobre os "homens temporariamente sós", não estavam a pensar em Carlos Costa. Até porque o governador do Banco de Portugal é, há muito, um homem definitivamente só.
Não apenas porque as condições meteorológicas exteriores aconselhavam há muito o seu recolhimento noutras latitudes, mas também porque o trabalho incessante que tem desenvolvido no Banco de Portugal tem-se revelado um prodígio de nulidade. Nada que tivesse demovido o anterior Governo de o reconduzir, depois de ele ter sido o bode expiatório de muitas decisões governativas e de ter sido atacado directamente por membros do anterior Executivo. E de Carlos Costa ter aceitado manter-se, mesmo sabendo que as eleições legislativas estavam à porta. Pior: sucessivas intervenções (ou falta delas) mostraram sempre um governador em busca do seu destino. Há dois casos recentes (e já nem se fala do BES, ainda por explicar convenientemente, e do Banif) que mereciam que o Banco de Portugal deixasse de se colocar numa torre de marfim, ao abrigo do seu estatuto de independência, como se não tivesse de abrir a boca sobre nada.
Por um lado, seria conveniente que o Banco de Portugal explicasse como foi possível que José Veiga estivesse prestes a comprar um banco em Cabo Verde e que, depois de a bolha ter explodido, ter vindo dizer confortavelmente que o processo estava nas mãos do Novo Banco. Por outro, seria conveniente que Carlos Costa explicasse, se isso não fosse um incómodo muito grande, porque continua a não partilhar um relatório da Boston Consulting Group para avaliar a sua acção no BES. Como se o BdP tivesse gasto 300 mil euros num documento secreto que é uma espécie de pudim flã só para um comensal. São demasiadas ideias amarrotadas e adulação pelo segredo para passarem sem uma chamada de atenção. Ao criticar Carlos Costa, António Costa tem um volume de argumentos inatacável. Pode pôr-se em causa o método. Ou o efeito na frágil imagem de Portugal no mundo. Mas isso não iliba o solitário Carlos Costa.»
Fernando Sobral
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