«Schopenhauer contava que, num baile de máscaras, um distinto cavalheiro cortejou, durante toda a noite, uma dama que se escondia atrás do seu próprio disfarce.
Quando lhe declarou o seu amor, a mulher mostrou o rosto e o homem ficou sem palavras ao descobrir que era a sua própria mulher. No teatro ou nos bailes de máscaras todos também desejam ser outros. Mas, na política dos nossos dias, isso é menos plausível. Tomemos o caso da oposição. Confronta-se hoje com uma certeza: o Governo não caiu devido à guerra fratricida entre os diferentes partidos que o suportam no Parlamento. Por isso, a política de esperar que as uvas caiam de maduras não serve.
O CDS há muito já tinha percebido isso: Paulo Portas, de forma inteligente, cedeu o palco a Assunção Cristas, que não acede de gôndola aos palácios perdidos de Veneza: trilha todos os caminhos e pontes para alargar o espaço eleitoral do seu partido. Passos Coelho, entronizado por uma maioria que se eclipsará no momento da verdade, preferiu ter uma crise de rouquidão: só se ouviu durante meses. O resultado está à vista: Cristas é já mais popular do que Passos e o PSD vai cedendo nas sondagens face ao PS.
Assunção Cristas conquistou a liderança da oposição. E está a fazê-lo de forma inteligente. Passos parece, agora, ter pressentido o perigo: fala todos dias de economia ou da liberdade de escolha nas escolas. Mas talvez tenha chegado tarde ao baile de máscaras. O PSD, mesmo que não perca muito eleitorado para o CDS, pode vir a corroer o suficiente para que lá mais para o ano Assunção Cristas possa começar a ser uma alternativa para um PS que um dia não vai sustentar os equilíbrios com o BE e o PCP. É esse jogo que Passos Coelho pode ter visto tarde demais. No aparelho do PSD, as máscaras revelam mais do que ocultam. Estar perto do palácio do poder é a sua aspiração, como o é o do aparelho do PS. Por isso, Passos Coelho tem de comprar pastilhas para a garganta. Antes que seja tarde para ele.»
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