17.5.16

O boxe da CE



«A Comissão Europeia tem uma visão muito peculiar das regras do boxe político na Zona Euro. A CE, sabe-se, é Muhammad Ali contra os países da periferia, a começar por Portugal, Grécia e Espanha.

E é um peso-pluma quando tem de se defrontar com pugilistas como a Alemanha e a França. Contra uns usa o KO. Com os outros faz OK. E celebra ambos os factos com salsichas e champanhe. Nada de novo nesta Europa que se assemelha cada vez mais ao Festival da Eurovisão: é um verdadeiro "freak show". A ameaça da CE de avançar com represálias contra Portugal e Espanha contra défices excessivos (no nosso caso porque aconteceu a bomba-relógio do Banif) é revelador da forma como os comissários usam os seus parcos neurónios. Mesmo vendo que em 2016 há hipóteses reais de se ficar abaixo do célebre "défice excessivo", a CE ameaça com multas e com a não transferência de fundos. Talvez assim consiga que Portugal, em 2016, volte a não cumprir o défice. Se não desse vontade de chorar, era motivo de piada.

Há dias, Jason Furman, conselheiro económico de Obama, disse ao El País, que a Casa Branca é partidária de uma aplicação flexível das regras fiscais na Zona Euro. Até porque ela só se aplica aos países da periferia. Basta ver que a Alemanha volta a ter excedente comercial brutal e o que diz a CE? Que vai colocar Berlim "sob vigilância". A França diz que não quer saber do défice excessivo e o que faz a CE? Assobia para o ar. Passos Coelho e Maria Luís Albuquerque tiveram uma atitude sensata (e que defende os seus próprios interesses políticos) ao escrever a dirigentes da UE para que estes tenham a noção da realidade. A sanha vingadora da CE contra Portugal parece digna de um combate de boxe onde as regras são distorcidas a favor sabe-se lá de quê. Porque qualquer sanção será mais um prego no caixão da UE.»

Fernando Sobral

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