5.8.16

«Gestos de cortesia aceitáveis»



Não sei os médicos ainda são destinatários de «gestos de cortesia aceitáveis» dos seus doentes (devo certamente dizer utentes, desculpem lá), mas era habitual receberem umas tantas prendinhas de reconhecimento pelos cuidados prestados, sobretudo por altura do Natal. Modestas, das mais variadas espécies, sobretudo comestíveis.

Porque o meu marido era médico no IPO, os ditos víveres desembarcavam cá em casa, sem dramas nem quezílias. Até um dia. Uma prestimosa senhora chegou à consulta com uma cesta onde trazia um peru… vivo. Para esta casa veio, não dava muito jeito mantê-lo como animal doméstico e alguém acabou por fazer o gesto fatal de o degolar. Mas, como é sabido, os perus podem continuam a mexer-se, o que aconteceu: vi-o, com horror, correr pela casa fora e vir até à sala onde estou agora. Ontem, a recordação desta prenda fatídica não me saía da cabeça. Mas o peru não trazia nenhum bilhete de avião para assistir a jogatanas de futebol, nem estavam em causa milhões de euros em tribunal. Tempos de inocência. 
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