«Quando Zeus, o grande deus do Olimpo, viu a jovem Europa apaixonou-se à primeira vista. Para evitar a fúria da sua ciumenta mulher, Hera, Zeus transformou-se num touro branco. Seduziu Europa de forma brutal e assim nasceria Minos, o futuro rei de Creta.
Europa haveria de dar o nome a um continente. Mas, no fundo, os pecados nunca desapareceram: engano, rapto e violação. A origem e o destino da Europa nunca conseguirão ser apagados. Talvez por isso Bruxelas, capital de uma Bélgica que foi o cemitério de todos os sonhos e pesadelos da Europa, de Waterloo às Ardenas, seja hoje a sede da UE. O problema de Portugal é que se colocou nas mãos desta Europa. Foi agradável quando o sol prometido era belo. É desastroso quando sopra o vento das tempestades. E, claro, o Governo de António Costa não é Zeus para seduzir esta frugal Europa. É por isso que nenhum druida nacional, especialmente os do BE ou do PCP, poderá vaticinar o fim da austeridade. Ela vai continuar porque Bruxelas assim o determina.
É isso que permite a Passos Coelho, num dos seus poucos momentos de clarividência, dizer que o seu Governo gastou mais em investimento público do que o actual que se diz de esquerdas. É muito deprimente ter de governar sem dinheiro, mas Portugal já não manda na máquina que faz moedas. É óbvio que o OE de 2017, com mais ou menos ameaças à esquerda, será aprovado. BE e PCP não vão avançar para uma guerra de trincheiras que, inevitavelmente, perderiam. Mas o convívio de Zeus com a Europa não conseguirá manter-se para sempre. O que pede Bruxelas não é, a prazo, possível de conciliar com a necessidade de acalmar Arménio Carlos. As linhas vermelhas anunciadas por Catarina Martins serão ainda passadeiras vermelhas para António Costa palmilhar nos próximos meses, com algumas cedências folclóricas para animar as hostes. Por outro lado, à direita, Passos e Cristas ainda não sustentam alguma alternativa credível. É neste labirinto que o país vai caminhar nos próximos meses.»
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