7.9.16

A Lisboa de Medina



«Honoré de Balzac era um grande sonhador. Mandou construir um palácio que nunca habitou, mas este acabou por ser a fonte da sua ruína financeira. Fernando Medina tem sonhos mais modestos: tornou Lisboa num estaleiro e agora não sabe o que fazer com o caos criado.

É uma opção política tão legítima como qualquer outra. Mas com custos políticos bem maiores que o investimento que está a ser feito nestes últimos meses por "motivos burocráticos", como tentou explicar aos ingénuos habitantes da cidade o inamovível Manuel Salgado.

É certo que os portugueses são conhecidos por terem a memória curta e talvez alguns acreditem que, deslumbrados pela previsível sucessão de inaugurações que irão atropelar-se nos meses anteriores às eleições autárquicas, os lisboetas que ainda conseguem viver em Lisboa iriam correr para votar em Fernando Medina.

Esquecendo um ano de obras sem fim, feitas todas ao mesmo tempo, que podem ter alguma bondade subjacente, mas que tornam a vida na capital um inferno na terra. Porque Fernando Medina tem de ter a noção de que, com serviços cruciais sofríveis como o que Metro (em Agosto poderia fechar, porque simplesmente finge que funciona) e Carris fornecem, a Disneylândia só existe na Baixa para turista ver. Lisboa tem neste momento um problema maior: os cidadãos estão a ser empurrados para fora dela, devido à pressão do preço do imobiliário e do arrendamento.

Qualquer dia estas obras servirão para fantasmas. Talvez tenha sido um auxílio dos deuses alguém ser consultor e fornecedor da 2.ª Circular ao mesmo tempo. Para a CML as poder parar. Porque com essas obras em pleno, Fernando Medina até perderia com o Pato Donald para a CML. Mas vão ser ainda demasiados meses de obras por toda a Lisboa para que elas não caiam no lombo de Medina e o magoem politicamente. O que mostra, como em muitas outras coisas, uma falta de clarividência táctica notável. Balzac tinha um grande talento para criar personagens. Algumas eram mais reais do que o seu autor. Mas Fernando Medina não faz jus ao seu criador.»

Fernando Sobral

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