31.10.16

Malas e edredões



«O comissário Pierre Moscovici fez provas, há alguns dias, para ser o sucessor do mágico Houdini. Segundo ele: "Temos de fazer caber o edredão na mala." Sintetizando: o volumoso edredão é o OE italiano.

A mala é o Pacto de Estabilidade e Crescimento da UE, que às vezes parece não ser maior do que a bagagem que se pode transportar numa "low-cost". Compreende-se o dilema de Moscovici para conseguir colocar um edredão do tamanho de Itália na malinha de cartão da UE. Mesmo empurrando é difícil que lá se consiga encaixar. Nada que admire os mais sensatos. Depois de vários anos de emagrecimento austero decretado por Bruxelas à sombra de umas leis que todos aprovaram por pressão da Alemanha e quando se pensava que o crescimento económico seria imparável, os resultados estão à vista. Uma coisa era ter aproveitado os anos férteis para colocar as contas públicas em dia. Outra era ter-se trocado, a meio do caminho depois da crise de 2008, uma política expansionista por outra de travão e marcha à retaguarda. (…)

Basta escutar os dislates do ministro Wolfgang Schäuble para se perceber como funcionam os neurónios de alguns políticos no centro da Europa. O problema é que a economia também é política. No caso de Itália, uma das maiores economias da Zona Euro, Matteo Renzi tem pela frente um duro desafio eleitoral daqui a pouco tempo. Se ceder às pretensões de Bruxelas, o seu destino em Itália estará traçado. Por isso revolta-se e pede uma mala de cartão maior para acomodar o seu desconfortável edredão. No fundo a questão maior é: como podem conviver malas e edredões?»

Fernando Sobral

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