«O mágico de Oz vive de equívocos: foi levado por um balão desgovernado para ali, onde finge ser um poderoso feiticeiro a partir dos múltiplos truques que cria.
Assim governa Oz, até que surge a menina Dorothy. Para realizar o sonho desta, regressar a casa, o mágico tem de regressar ao mundo real. E deixar-se de ilusões. É este o dilema actual de Passos Coelho. Esperou durante um ano, de calculadora na mão, que o Governo caísse, por acção externa ou interna. Não desabou porque quer a política, quer a economia, não são ciências exactas. Durante todo esse tempo as intervenções importantes de Passos Coelho podem ser sintetizadas em sete entradas de Twitter e ainda sobram caracteres. Um ano depois, mudou de táctica. Agora fala sobre tudo. (…)
O novo cisma de Passos Coelho são os salários dos administradores da CGD. É um tema que aquece o sangue a qualquer português, especialmente nestes anos de austeridade. Passos parece ser sensato, coisa que o Governo não foi: ordenados destes precisam de explicações políticas transparentes. Sob pena de parecerem, aos olhos dos portugueses, um exercício de novo-riquismo. A questão é que Passos Coelho dispara mais longe: quer acertar não num pombo, mas num bando de pássaros. Ou seja, na recapitalização urgente da CGD. E aí espalha-se ao comprido, porque o chumbo da carabina acerta nos seus pés. O Governo de Passos Coelho empurrou com a barriga problemas como o do Banif e da CGD. Que tinham de rebentar, mais dia, menos dia. Aqui termina a magia do feiticeiro de Oz. Ou de Passos Coelho. O líder do PSD quer criar um grande movimento nacional contra um salário. O problema é que acerta no futuro da CGD, aquela entidade que um dia queria privatizar. Talvez devesse escutar Marcelo Rebelo de Sousa. Que, sensatamente, disse ao Governo que os salários deveriam ter que ver com os resultados.»
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