«Portugal nunca teve e não tem uma estratégia concertada e esclarecida de promoção global. Lugar pequeno também nas mentalidades, onde proliferam os invejosos e os incompetentes, promove-se por compadrio e só muito raramente por mérito. Escapar a esta mecânica é ficar isolado, na cultura ou nas empresas. (…)
Temos finalmente um Governo positivo e mobilizador após um ciclo depressivo que quis empobrecer o país económica e mentalmente. Tudo considerado, estamos num tempo de crescimento da autoestima coletiva que abre muitas oportunidades e novos desafios. A escolha de Guterres vem dar mais um poderoso e altamente significativo contributo a esse momento.
O Governo de António Costa cumpriu o primeiro ano repondo salários, melhorando ainda que ligeiramente a situação económica dos portugueses. Foi essa a promessa, foi essa a base do acordo à esquerda. Mas agora é necessário fazer um "upgrade". No segundo e restantes anos do mandato, é preciso ir mais longe e apostar em força na inovação tecnológica pois só ela pode superar os atavismos da nossa economia.
Nesse processo o papel da cultura é fundamental. É hoje evidente a importância decisiva que a criação artística tem na inovação tecnológica, não só porque a tecnologia atual é altamente criativa em si mesmo, mas porque assenta em ideias inovadoras, matéria de que se faz a arte. (…)
Sempre afirmei que a cultura era o maior problema dos nossos governos, de esquerda ou direita. O atual não é exceção. Porque nunca se entendeu que mais do que exposições, peças de teatro ou filmes, cultura hoje é contribuir decididamente para a construção do futuro. A visibilidade que Guterres dá ao país poderia ser importante para uma alteração profunda do modo como entendemos a cultura em tempo de globalização tecno-criativa. Mas para isso era preciso renovar radicalmente o próprio entendimento do que é cultura hoje e a natureza das suas práticas. Precisamos de uma revolução cultural. Mas não vejo que ela esteja a acontecer.»
Leonel Moura
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