«As grandes decepções fazem, muitas vezes, com que os líderes políticos se refugiem em coisas pequenas. É esse o pequeno desafio que Pedro Passos Coelho faz a si próprio, como provou a sua soneca discursiva no Pontal.
Tudo espremido, o líder do PSD continua a choramingar, dois anos depois, por ter sido apeado do poder. Sem o seu alvo favorito (a crise económica) como argumento, torna-se difícil invocar que o diabo está a chegar num avião "low-cost" ao aeroporto da Portela. O crescimento económico e a quebra da taxa de desemprego derretem qualquer momento de exaltação cívica. Por isso as palmas foram de circunstância. Que resta então, neste vazio, a Passos Coelho? Os incêndios, uma declaração de amor à Altice e, com boa vontade, a crítica ao modelo económico de turismo, exportação e baixos salários, que está em vigor, e que, afinal, é semelhante ao que foi cozinhado nos anos em que foi primeiro-ministro. E que, no laboratório da troika, era a solução de futuro para Portugal. O que agora Passos critica é o que, com as suas "reformas", fez. Mas tudo isto é política à nossa maneira.
A parte mais robusta da "stand-up comedy" de Passos no Pontal foi assegurar que em 2018 ali estará novamente para contar umas histórias aos militantes. Isto quer dizer muito simplesmente que, independentemente dos resultados autárquicos, Passos não resignará. Se for desafiado em Congresso, irá à luta. Passos diz, do fundo do coração: nunca me renderei! Passos está convicto de que tem razão e é disso que se forjam os políticos. É certo que os homens de ferro são muitas vezes afectados pela ferrugem, de que normalmente não se dão conta, mas é bom que o líder do PSD seja claro. Os seus inimigos internos, quase todos eles escondidos atrás de cortinas, esperam. Mas o poder não lhes cairá, de mão beijada, nas mãos. A sua declaração é relevante pela carga emocional e política que contém. É uma advertência aos que o podem desafiar, de herdeiros a conspiradores. Pela sua firmeza, há que elogiar Passos Coelho.»
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