Sucedem-se os textos sobre o Verão de 1967, agora que completa 50 anos um marco na vida de toda uma geração que o viveu «na hora» e, por tabela, na de outras que foram herdando farrapos. Foi uma magnífica silly season, mesmo que a expressão ainda não fosse usada, com S. Francisco no centro do mundo e flower power como insígnia de muitas utopias.
O Negócios de hoje inclui um longo texto sobre o tema e utilizarei uma parte do mesmo.
«São Francisco, no Verão de 1967, foi o centro de uma revolução cultural, musical e social, o delicado ponto de equilíbrio que prometia mudar a História. E que, até certo ponto, mudou.»
«Foi o ponto alto da cultura hippie, mas as raízes do movimento estavam muitos anos antes, nos heróis literários da contracultura que ficaram conhecidos como a geração Beat. Desde os anos 40 que Jack Kerouac e os seus comparsas perseguiam uma forma diferente de vida, de viagens à boleia, de música e de libertação dos espartilhos dos costumes da sua geração.»
«O movimento hippie ganha embalagem a partir do final de 1965 e em todo o ano de 1966, numa altura em que o LSD já tinha deixado de ser um passatempo de intelectuais e chegara às ruas. A sua junção com a música rock consolida-se. (…) A imprensa nacional toma bem nota do fenómeno, e todo o país fica a conhecer o universo libertário de São Francisco. Resultado: enquanto os pais lêem horrorizados as notícias, os filhos só pensam em juntar-se à rebelião hippie.
Depois de uma invasão de umas dezenas de milhares de jovens em 1966, com o eco da imprensa, tudo ia subir de dimensão, tendo como lema o oportuno hino "San Francisco (Be sure to wear flowers in your hair)", editado em Maio de 1967. A canção foi um grande sucesso e serviu de convite para o Verão que se seguia.»
«Do outro lado do Atlântico, a cultura hippie também se fazia sentir, fruto do intenso intercâmbio musical entre a Inglaterra e os EUA. Acima de todos estavam, naturalmente, os Beatles. É de 1967 o histórico "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band", álbum conceptual editado em Maio que deixou os músicos rock de todo o mundo a coçar a cabeça e a pensar como seria possível fazer algo tão criativo e ao mesmo tempo acessível (Brian Wilson, dos Beach Boys, foi apenas um deles). Esse disco foi a face mais visível, mas há mais exemplos no Reino Unido. Donovan marcou pontos com o seu "Mellow Yellow", os Moody Blues deram um passo em frente com "Days of Future Passed", e os Cream atacaram com "Disraeli Gears", depois de Jimi Hendrix ter aterrado em Londres e tirado o ceptro a todos os grandes guitarristas locais, de Eric Clapton a Pete Townshend, dos The Who. Num caminho mais próprio houve ainda a estreia em disco dos Pink Floyd, com o psicadelismo tipicamente britânico de "The Piper at the Gates of Dawn".»
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E em Portugal? Também o vivemos, sim, e com um enorme entusiasmo, apesar do cinzentismo salazarista e de todo o atraso. «Vivemos»? Uma minoria urbana, obviamente, mas que viu em tudo o que estava a acontecer uma enorme razão de esperança e de alegria e que cantava e dançava «If you are going to San Francisco» como se estivesse a caminho. E, de certo modo, estava mesmo.
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1 comments:
A maior parte deles de delas são hoje gente da pior espécie.Isto é tudo muito lindo mas é nos livros.Hoje? Tudo gente bem na vidinha.Vivo tão perto deles que lhes sinto o cheiro.A verdade é esta de cada vez que passam para "outra margem " nem sabem andar! Entram noutra dimensão!
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