«A pergunta tem todo o sentido, porque a nossa direita, cada vez mais parecida com a Alt-right americana, esteve na vanguarda do ataque ao independentismo catalão, e adoptou o mesmo espanholismo radical do PP espanhol. Os socialistas portugueses ficaram entalados, mas mais do lado espanholista por razões de seguidismo europeu e ao menos o nosso Podemos, o Bloco, não teve que adoptar o equilibrismo do espanhol, cujos custos nas urnas na Catalunha parecem vir a ser enormes. Em tempos de Revolução Russa comemorativa vale a pena lembrar a acusação de Lenine aos que estavam sentados em duas cadeiras ao mesmo tempo e corriam o risco de cair.
Mas, voltando à nossa direita, o que os leva a todo este vigor espanholista? Em primeiro lugar, o espanholismo em Espanha é a reacção – sim, a velha e cruel e violenta reacção personificada no PP e nos proto e verdadeiros falangistas que apareceram nas ruas a gritar pela Espanha "una" – e eles gostam da reacção. O problema é que esse mesmo espanholismo em que agora se filiaram é tradicionalmente antiportuguês, o que parece não os incomodar muito. Um dos aspectos porque é assim é a ignorância da história, e nunca devemos menosprezar o papel da ignorância nestas coisas. Outro é que o núcleo de interesses que representam, ao nível europeu, partidário, de negócios, era afectado não só pela independência catalã como pelo efeito de contágio que muito temem no País Basco e noutras regiões espanholas.
Para a Europa mais conservadora, a Espanha governada pelo PP é fundamental para garantir uma "companhia" à Alemanha, e para manter a hegemonia nas instituições europeias do PPE, ameaçada à direita e à esquerda.
Por último, identificam erradamente o independentismo catalão com partidos radicais à esquerda, o que está longe de ser verdade. Historicamente o independentismo catalão teve e tem uma importante representação à direita, só que a praga da corrupção que afectou profundamente o sistema partidário espanhol, do PSOE ao PP, e aos dirigentes tradicionais da Catalunha como Pujol, desequilibrou a representação política.
Mas talvez de todos estes factores o mais sólido e mais preocupante seja a "nova" Europa que funcionou como um mastim contra o Syriza e agora fez o mesmo com a Catalunha. Uma Europa cada vez mais autoritária e incapaz de fazer uma qualquer política que avance a liberdade, a democracia, a integração dos refugiados e a riqueza dos mais pobres dos europeus, é pelo contrário muito eficaz em reprimir diferenças e causas. A nossa direita precisa hoje e muito dessa Europa.»
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