«Nunca esquecerei a imagem de um rio vermelho que rasgava a planície branca. Foi em junho de 2011, quase nove meses depois da tragédia que atingiu Devecser e Kolontár, duas localidades deixadas ao esquecimento na Hungria.
Em outubro de 2010, já no mandato de Viktor Orbán como primeiro-ministro de novo, Devecser partiu-se ao meio cerca de 40 minutos depois de ter rebentado o reservatório que armazenava os detritos tóxicos de uma fábrica de alumínio das redondezas. Uma parte da localidade foi literalmente varrida por ondas tóxicas de dois metros de altura. As mesmas que, já com menos força, haviam de chegar a Kolontár e tingir as suas terras de vermelho. Na altura chegaram-nos algumas, poucas, imagens da tragédia das lamas vermelhas. Orbán presidia também à União Europeia nesse momento e nada podia manchar esse exercício, nem mesmo as mortes, as pessoas hospitalizadas ou as vidas destruídas pela tragédia.
No Parlamento Europeu tentámos várias vezes agendar o debate, mas de todas as vezes fomos silenciados pelo acordo de cavalheiros. Foi assim que decidi ir à Hungria e visitar as populações afectadas. (…)
O voto desta semana para sancionar o governo húngaro foi um voto pela defesa dos direitos humanos mais básicos e fundamentais. Aplicar sanções à Hungria não tem que ver com sermos mais ou menos críticos da actual norma vigente na União Europeia. Tem a ver com dignidade e o respeito pelos valores universais. Quando já nem isso tivermos, não nos resta nada. Também assim espero ter homenageado as famílias de Devecser e Kolontár.»
Marisa Matias
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