25.10.18

O ministro veste Prada



«Mário Centeno é o ministro da moda. É, à escala europeia, um "influenciador". Em vez de espalhar a sua influência nas redes sociais, criando ali um público fiel que vai atrás das suas opiniões sobre quais os produtos que deve comprar, exerce-a na União Europeia. E, claro, no Governo. Onde, mais do que um "influenciador", é um árbitro do gosto.

Os ministros gostam do que Centeno gosta. Se Centeno gostar de Prada, no dia seguinte todos os ministros passarão a vestir Prada. Ou a levar computadores dentro de malas Prada. Se um dia destes, por motivos de contenção, Centeno passar a preferir Primark, lá teremos os ministros, obedientes, a vestir na marca baratinha que serve os portugueses com menor poder de compra. Mas Centeno, vá lá saber-se porquê, acha que Prada é sinónimo de luxo. Poderia ter escolhido, para outras sensibilidades, a Louis Vuitton ou a Armani. Mas gostos são gostos. Ou então não foi um acaso.

O certo é que, como disse no Parlamento: "Hoje não é apenas o PIB que veste Prada. Também o desemprego, o saldo primário das contas públicas, o investimento e as contas públicas. Hoje todos vestimos Portugal e os portugueses têm orgulho nisso." Que o PIB vista Prada, ainda vá lá. Que o desemprego envergue Prada, já é mais duvidoso. A metáfora não convence. A Prada não está ao alcance de um desempregado ou de quem ganha o salário mínimo nacional. A menos que compre na contrafacção, o que vai contra os princípios de caça fiscal de Centeno.

Centeno, não sei se se recorda, talvez tenha tentado fazer um trocadilho com o célebre livro (e filme) "O Diabo veste Prada", sobre a relação de trabalho de uma jovem com a sua chefe, que tem um coração tão quente como Átila, o Huno. Aí é mais difícil decifrar a metáfora de Centeno: quem veste Prada, no livro, é um Diabinho. Assim, quem veste Prada neste filme nacional? O ministro, o PIB, Bruxelas, os portugueses? Ou o Diabo está a enganar-nos a todos, envergando Prada? Passos Coelho deve estar a rir neste momento: ele, que dizia que o Diabo voltaria a surgir, não imaginaria que Centeno o poria a vestir Prada.»

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