18.3.19

Autonomia das Escolas e Direitos Humanos (LGBTI)


O meu amigo Paulo Trigo Pereira sabe do que fala.

«Há palavras que apenas desmerecem e qualificam quem as profere. Chamar “porcaria” a uma acção de formação numa escola sobre “diferentes orientações sexuais” em que os alunos participam voluntariamente, e qualificar de “qualidade duvidosa” uma respeitável associação de jovens, demonstra preconceito, homofobia e ignorância. Afirmações destas proferidas por um obscuro cibernauta, não nos admiraria, mas por um deputado da nação já surpreende e choca. A questão ganha foros de cidade, quando o partido desse deputado, PPD-PSD, dá cobertura a esse desvario, em carta ao Presidente da Assembleia da República, embora a pretexto de uma questão conexa, mas colateral – a queixa apresentada por duas deputadas do Bloco de Esquerda contra esse deputado. Ou quando o CDS faz uma questão ao governo para saber se a Escola “cumpriu os referenciais do Ministério da Educação, que incluem os temas da igualdade de género e de sensibilização da diversidade de orientações sexuais, ou se extravasou as suas competências nesta matéria”. (…)

Ao contrário do deputado do PSD conheço bem a rede ex aequo. Basta consultar o meu registo de interesses na AR para ver que fui presidente da Assembleia Geral de uma Associação de Mães e Pais pela Liberdade de Orientação Sexual e Identidade de Género. Fundámos a AMPLOS há dez anos e a minha mulher é, desde essa data, presidente da sua direção (declaração de interesses feita). Porque o fizemos? É também muito simples. Temos duas filhas, uma lésbica, e não admitimos que nem ela, nem ninguém, seja discriminado. A não discriminação de pessoas LGBTI insere-se num campo mais vasto de luta contra todas as formas de discriminação: que inclui discriminação por género, raça, pessoas com deficiência, entre outras. (…) A nossa filha Catarina vive em Berlim e um dos primeiros comentários que lhe ouvimos, desde que lá está, foi: “ao contrário de Portugal, aqui na Alemanha não sinto reprovação social por ser quem sou.”. É por isso, e por todos os jovens que sofrem a discriminação e o preconceito que, ano após ano, vamos num fim de tarde de verão ao acampamento da rede ex aequo. Sentamo-nos em roda, com dezenas de jovens, e conversamos. Todos os anos vemos lágrimas que correm pelas faces de muitos que ainda não tiveram a coragem de contar aos pais aquilo que são.»

.

0 comments: