7.3.19

Carnaval, ainda – agora os chineses



«A minha etnia não é uma fantasia de Carnaval», diz Cristiana Xia Wu, filha de imigrantes chineses, que nasceu e cresceu em Portugal, perante um desfile de crianças mascaradas de chineses em Marco de Canaveses.

«Era uma noite banal, estava no meu telemóvel e apareceram no Twitter umas fotos de um desfile de Carnaval, cujas pessoas estavam aparentemente vestidas de “chineses”. À primeira vista, nem sequer tinha reparado nesse aspecto, mas foi depois de ler as mensagens dos cartazes nas mãos das pessoas que me apercebi do que é que se tratava. “Socorro! Quero sair desta invasão!”, “Os chineses são espertos, apesar de terem olhos em bico”, diziam. A minha primeira reacção foi de choque. Sei que estes preconceitos existem, mas a manifestação dos mesmos foi tão directa que tive de pensar por uns momentos para processar o que li. (...)
Um dia, explicarei isso tudo como deve de ser. Mas agora, simplesmente, quero chamar a atenção das consequências desse tipo de desfile. Pensem no tipo de cidadãos que querem formar. Pensem na possibilidade de formar pessoas com uma mente aberta, livre de preconceitos. Pensem na possibilidade de uma sociedade portuguesa diversa e rica culturalmente. Ninguém gosta de pessoas intolerantes, certo?
E eu pensarei nas crianças chinesas que nasceram cá em Portugal e que viram esse espectáculo, tentando encontrar a melhor solução para que elas não se sintam desconfortáveis nas suas peles, porque não há nada de errado em ter origem chinesa. Não devemos sentir que temos de negar uma parte da nossa identidade para nos sentirmos mais aceites pela maioria. Podemos ser perfeitamente ambos — portugueses e chineses, tendo orgulho em ambas as culturas.»
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