«Sexta-feira passada, um terrorista — australiano, supremacista branco, 28 anos — atacou duas mesquitas na Nova Zelândia, durante a oração principal da semana, emitindo em directo para o mundo. Cinquenta pessoas morreram.
Foi o ataque mais brutal alguma vez na Nova Zelândia. O país ficou em choque. Mas a Nova Zelândia tem uma primeira-ministra que fez a diferença no mundo. Jacinda Ardern disse que aquelas pessoas atacadas — os muçulmanos — eram “nós”. Foi abraçá-las. Disse que nunca diria o nome do terrorista, que tanto quis notoriedade que matou em directo. E antes de o ataque fazer uma semana, Jacinda Ardern anunciou que ia banir as armas semi-automáticas.
Jacinda é a mais jovem mulher chefe de governo do mundo, tem 38 anos. Filha de uma família da classe trabalhadora, e politicamente trabalhista, foi levada para a política pela tia. Estudou comunicação, foi voluntária numa sopa de pobres em Nova Iorque, viveu em Londres, fazia parte de um painel de 80 pessoas, espécie de orgão de consulta de Tony Blair. Nunca esteve cara a cara com o então líder britânico em Londres, mas questionou-o depois na Nova Zelândia sobre a invasão do Iraque.
No ano passado, Jacinda foi mãe enquanto primeiro ministro em funções e levou o bebé, com três meses, para a Assembleia Geral da ONU. Inédito, histórico.
Foi esta a mulher a quem, há uma semana, coube responder no momento em que o seu país viveu o mais brutal ataque de sempre. E foi esta a mulher que, na sua resposta, não só emocionou o seu país, e convenceu adversários políticos, mesmo, como emocionou o mundo e deu-lhe um espelho onde ver a diferença. O que a distingue de pesadelos como Trump.
Nos jornais estado unidenses sucedem-se os textos sobre como Jacinda Ardern, a líder daquele remoto país, está a mostrar à maior potência do mundo como lidar com tiroteios em massa, com licença de armas e a sua multiplicação, com ataques terroristas, com os autores dessse ataques e com as suas vítimas.
Mais, está a mostrar ao mundo como lidar com o racismo, e como o terrorismo pode vir de qualquer lado, está a vir do supremacismo branco, dos racistas que se sentiram tão encorajados por Trump, e nele votaram.
A Nova Zelândia é o antípoda para quem está na Europa ocidental. Mas Jacinda mostrou que a Nova Zelândia é um eixo do mundo, um centro para onde líderes políticos das ditas potências devem olhar, para aprender. Ela é, na verdade, o antípoda de Trump ou Bolsonaro, dos xenófobos na Hungria ou na Itália. E como precisamos de antípodas assim.»
Alexandra Lucas Coelho
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