15.9.19

Ainda a maioria absoluta



«Em julho, escrevi um texto em que argumentava que seria difícil ao PS alcançar uma maioria absoluta. Com os dados novos, em particular os da sondagem do ICS/ISCTE publicados hoje, revisito o argumento.

Mantenho que será uma surpresa que o eleitorado em Portugal se comporte em contratendência, reforçando maciçamente o voto num partido de centro, quando o padrão europeu tem sido de recuo do centro tradicional e de crescente fragmentação parlamentar. Por outro lado, a estabilidade que caracterizou o ciclo político que agora finda dá incentivos para os eleitores repetirem o voto no BE e PCP, limitando a capacidade de o PS crescer à esquerda. Ao mesmo tempo, há segmentos do eleitorado e regiões onde os socialistas são menos competitivos, o que dificulta a maioria absoluta.

Mas, depois dos sinais deixados nas europeias, o conjunto das sondagens vem confirmando uma tendência: o voto somado na direita pode atingir valores impensáveis e, de facto, viabilizar uma maioria absoluta. Em eleições nacionais de primeira ordem, os piores resultados combinados do PSD e CDS foram em 2005 (36%) e em 1975 para a constituinte (34%). A possibilidade de o voto somado nos dois partidos se situar abaixo dos 30% altera profundamente o contexto.

Desde logo porque nos devolve a resultados eleitorais excecionais em que a diferença entre primeiro e segundo partido mais votado se aproximou dos 20 pontos — só aconteceu em 87 e 91 com Cavaco Silva. Com votações nos 44% por duas vezes, Guterres falhou a maioria absoluta — em ambos os casos, PSD e CDS juntos tiveram entre 40 e 43% dos votos e o PSD não baixou dos 32%. Sócrates precisou de 45% para ter maioria, em parte porque o PSD teve 29%. Se se confirmar um resultado com o PS acima dos 40%, PSD a cerca de 20 pontos e CDS em redor dos 5%, o limiar da maioria absoluta deve baixar. Aliás, o PS pode vencer em todos os distritos do continente (o que seria inédito) e o método de apuramento de deputados favorecerá os socialistas.

Porém, ninguém pode afirmar com precisão qual o resultado que torna possível uma maioria absoluta. O conjunto das sondagens conhecidas dá-nos um retrato do país que não nos permite extrapolar para cada distrito. Em particular, não sabemos se, nos grandes círculos de apuramento (Lisboa e Porto, mas, também, Braga, Setúbal e Aveiro), está a ocorrer alguma tendência — silenciosa! — de fragmentação do voto. Para algum lado os eleitores de direita estarão a ir: se parte significativa se encontra desmobilizada, outra pode fazer um cálculo estratégico, votando em partidos que, em círculos grandes, podem ultrapassar a barreira que permite eleger.

O que a sondagem nos diz é que uma esmagadora maioria dos portugueses acredita que o PS sairá vencedor, embora preferindo que os socialistas não tivessem uma maioria absoluta, e parece inclinada a dar essa maioria a António Costa. Durante a campanha vamos ver quem gere melhor esta aparente contradição.»

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1 comments:

estevesayres disse...

Não credo fugir do tema:

O que o povo português exige que seja respondido é simples:

· Vamos poder dispor da nossa zona económica exclusiva (ZEE)?

· Podemos voltar a ter marinha mercante?

· Vamos voltar a ter indústria?

· Vamos voltar a ter agricultura?

· Vamos voltar a ter política externa?

· Vamos voltar a ter politica de defesa?

· Vamos voltar a ter moeda?

· Vamos voltar a ter Língua?

· Vamos voltar a ter bancos públicos?

· Vamos continuar a ter água?

· A Escola vai passar a servir para alguma coisa?

· Vamos ter política de cultura?

· A Medicina vai funcionar no SNS sem matar as pessoas por infecções hospitalares?

· Podemos ter contratos de trabalho menos injustos, ou vamos continuar a assentar a política de emprego na precariedade e na ausência de confiança?

· Podemos não ir combater para a Ucrânia e para a Venezuela? Para o Irão, para o Mali e para a República Centro-africana?

· Pode-se recuperar as verbas sumidas na corrupção?

· O pessoal das organizações (teórica ou praticamente) secretas pode ser posto nos eixos?

· E quanto aos tribunais, há modo de meter juízo naquelas cabeças?

· Podemos gostar de futebol sem ter de aturar máfias?

· Vamos recuperar a soberania cambial, monetária e orçamental?