«1. Vai-se ouvindo por aí a profecia de que o nosso Serviço Nacional de Saúde não tem capacidade para lidar com a futura pandemia de coronavírus. Caso para dizer que se descobriu a pólvora. É mais ou menos óbvio que não tem. Como não tem qualquer país em que se tomem decisões minimamente racionais.
O SNS só teria capacidade para lidar com centenas ou milhares de casos simultâneos de coronavírus (ou qualquer outra pandemia) se os portugueses estivessem disponíveis para pagar, com os seus impostos, a construção e o equipamento de quartos de isolamento vazios em unidades de infeciologia redundantes. Ou se achassem razoável pagar, com os seus impostos, a formação e os salários de médicos, enfermeiros, técnicos de diagnóstico e demais funcionários da saúde, que só estariam verdadeiramente ocupados a cada mutação de um vírus. É certo que, no dia em que o Covid-19 chegar (e segundo os especialistas, é só uma questão de tempo), os profetas da desgraça verão confirmada a profecia. Mas continuará a ser uma profecia inútil.
2. Há dois meses, as máscaras não custavam mais do que uns cêntimos. Hoje, esgotam nas farmácias, o preço acompanha a pressão disparatada da procura e haverá, como sempre, gente a enriquecer com o clima de histeria generalizada. Desde o início que os especialistas explicam que as máscaras são pouco úteis como proteção face a um eventual contágio. A quem fazem verdadeiramente falta é às pessoas já contagiadas. E fazem falta porque é uma das formas mais eficazes de evitar que contagiem pessoas saudáveis. Mas quase ninguém está interessado em ouvir. A prioridade vai toda para a preservação individual. Seja na voragem pelas máscaras, seja na corrida aos supermercados. Mesmo que sejam gestos inúteis. A ignorância e o medo combinados são mais difíceis de combater do que um vírus.»
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