«Desde o mês de Outubro que escuto a escuridão progressiva que se vem abatendo dentro de cada um. Dependendo da área de trabalho onde se inscrevem, do agregado familiar a que pertencem e do estatuto socioeconómico que têm, muda apenas o tom do escuro. A depressividade aumentou entre nós como, aliás, era mais do que previsível. De forma paralela, dentro de alguns, essa depressividade começa a ser tingida por tons de negro mais escuro e denso – a cor da angústia. (…)
Psicologicamente, é importante reagir em vez de sucumbir. Reagir nesta fase é não escamotear mais a realidade e, aguentando a dor triste de observar e fazer parte do desmoronar, continuar a pensar criativamente. Criativamente é inventar a cada momento uma solução válida para cada problema (individual e colectivo, ao mesmo tempo). Reagir é, no reforço dos laços afectivos, por mãos à obra no que respeita à solidariedade para com os muitos que já passam mal nesta altura. Reagir é reconhecer todos os dias o que corre bem (dentro e fora de nós) e fazer disso um chão seguro para continuar. Reagir é fazer valer o nosso poder pessoal. Neste momento, todos contam. Todas as ideias novas podem ser úteis e todos os movimentos de ajuste comportamental são preciosos. Reagir é também, ser claro e objectivo no que se comunica, evitando sempre que possível, discursos ambíguos, confusos e demasiado detalhados que fazem perder de vista o essencial do que se pretende. Reagir é integrar, colaborando, o coletivo que somos e ao qual pertencemos, despindo de vez os narcisos deixando-os para depois.»
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