11.7.21

Abre, fecha, testa, vacina

 


«Podemos começar pelo fim, que também é o princípio: vacinar, vacinar, vacinar. No meio de tanto abre, fecha e testa, é o único chão firme que temos pisado. Mérito do vice-almirante Gouveia e Melo, mas também do Serviço Nacional de Saúde, dos seus profissionais e dos municípios que, mais uma vez, estão a dar uma prova inequívoca de que a descentralização do poder, quando bem aplicada, é um préstimo à nação.

Em tudo o resto, tem avultado o experimentalismo, a sobranceria de um Estado que é dos mais restritivos do Mundo na resposta à pandemia, e uma chuva de medidas e contramedidas que equiparam a comunicação a um puzzle de cinco mil peças. Há regras em função dos dias da semana, das horas, das regiões e dos setores de atividade. Dir-me-ão: não havia outra forma, porque Portugal não é igual no impacto e na resposta à doença. Mas a outra face da moeda mostra-nos que chegamos a um ponto em que já ninguém percebe nada. O que é meio caminho andado para ninguém cumprir nada.

As mais recentes medidas, anunciadas com a doçura habitual pela ministra Mariana Vieira da Silva, são uma amálgama bem-intencionada (restringir para não fechar), mas ainda assim uma amálgama. Em que é que o Governo se baseou para exigir certificado ou testes aos alojamentos turísticos e aos restaurantes e não o fazer, por exemplo, aos cafés, shoppings e ginásios? Qual foi o suporte técnico desta estratégia que poupa uns para castigar outros? Não sabemos. Então, mas não eram as festas legais e ilegais que explicavam a proliferação do vírus nesta quarta vaga, como sugeriu António Costa? Se assim é, não fazia sentido recentrar a estratégia no reforço da fiscalização policial, em vez de transformar os donos dos restaurantes em polícias da zaragatoa?

Mais: a ministra disse estar convencida de que é à sexta, sábado e domingo que os restaurantes propiciam um "convívio mais alargado, com mais pessoas", parecendo desconhecer, por um lado, que é precisamente nesses dias que se sentam à mesa os clientes que normalmente fazem parte da bolha familiar (por isso mais protegidos), e, por outro, que os restaurantes, sobretudo nas grandes cidades, têm estado povoados à hora do almoço durante o resto dos dias, normalmente com comensais que são colegas de trabalho e estão fora da tal bolha de proteção.

Chegados aqui, e com menos de 40% da população vacinada totalmente, resta-nos continuar a agradecer ao vice-almirante, aos profissionais de saúde e aos municípios a abnegação com que têm feito funcionar a única boia de salvação que nos resta. E esperar que o certificado digital se espalhe rapidamente pela comunidade, a tempo de salvar a economia, a lógica e o Governo.»

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