«Os compreensíveis festejos da direita por perder por menos, no país, mostram a dimensão da sua ambição: acomodou-se a uma vocação minoritária. Na realidade, juntando PSD e CDS, a solo ou nas dezenas de modalidades de coligação, até perderam meio ponto percentual em relação a 2017: de 34,5% para 34%. Já Lisboa, em que a vitória é, pela surpresa, um feito extraordinário, levanta questões difíceis ao PSD. Em aliança com o CDS, consegue ficar à frente do PS por um ponto percentual. É verdade que com a IL e o Chega ia aos 43%, mas a esquerda teve mais de metade dos votos. Com as regras das eleições autárquicas, em que ganha o primeiro, foi suficiente para Moedas. Noutras eleições, como aprendemos em 2015 e nos Açores, não chegaria. E o que vimos em Lisboa é o mais provável numa improvável vitória do PSD e do CDS a nível nacional. Daria “geringonça” de novo. Na capital, a direita mobilizou-se e concentrou voto. Como mostra o aumento da abstenção nas freguesias mais de esquerda e a sua diminuição nas de direita, a esquerda desmobilizou. Parte disto resultou da convicção que Medina estava eleito. Mas a verdade é que não havia vontade de votar no PS, como se viu pela facilidade com que os eleitores debandaram também para a direita. Conhecidos os resultados, instalou-se um mantra: a esquerda deve deixar Moedas governar. António Costa, que gostaria de esquecer que tem um governo minoritário que o obriga a negociar, juntou-se ao apelo. Deve o PS aceitar que a política de mobilidade regresse ao século XX? Devem PCP e BE passar a acreditar que o mercado resolve o problema da habitação? Em quem votariam os seus eleitores nas próximas eleições? Nenhum vereador tem o dever ou o direito de se anular, esquecendo o seu programa e fazendo com que parte dos munícipes deixe de ter quem os represente. O PSD deve ter cuidado, aliás, com a cartada da ingovernabilidade, que pode fazer ricochete nas suas posições nacionais contra um governo minoritário. Moedas governará com toda a legitimidade. Para aplicar todo o seu programa teria de ter maioria. Em minoria, negoceia e terá de ceder nas suas propostas mais radicais e de rutura. O oposto seria silenciar 10 vereadores em 17 e, com eles, mais de metade dos lisboetas. A oposição tem de estar disponível para negociar, não para se anular. E preparar-se para concorrer coligada, com um rosto mobilizador, daqui a quatro anos.»
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