«Há não é um Mundo desconhecido. Vamos para o segundo Natal com os receios que, provavelmente, não tivemos no primeiro e se transformou num descalabro de casos e mortes em janeiro e fevereiro.
Já temos saudades de nos cumprimentarmos com dois beijos ou um aperto de mãos caloroso. Estamos naquela situação em que parecemos uns amputados: não sabemos se damos o punho, o cotovelo ou apenas uma reverência à oriental. Todos estamos de acordo que a covid está a mudar a forma como nos relacionamos, sendo que não é só o medo do contágio que faz tomar as devidas distâncias. A pandemia acelerou uma tendência anterior da automatização digital do nosso quotidiano e está a levar-nos para a economia sem contacto, da sociedade sem contacto.
Generalizou-se o teletrabalho e a maior parte das reuniões passaram para um ecrã. O dinheiro quase desapareceu e foi substituído por cartões de crédito e débito ou por outros sistemas de pagamento através do telemóvel. Em apenas dois anos, algumas destas formas de relação sem contacto entraram na nossa vida sem darmos conta. Cada vez é mais estranho entrar numa loja, deambular pelas secções, procurar um tamanho, escolher e passar pela caixa automática sem falar com ninguém. Que Natal este sem o calor humano. Em muitos restaurantes, o código QR substituiu o empregado e não tardará muito para que seja uma máquina a servir à mesa. E se formos falar no comércio online, não demorará muito recebermos os pedidos em armários instalados nos porões dos edifícios sem necessitar de falar com alguém.
Mas também começa a ser irritante ser obrigado a falar constantemente com máquinas, seja para reclamar da fatura da luz ou pedir crédito ao banco. E mesmo em serviços de saúde, rebentamos em ira quando temos de digitar vários números e falar com frases curtas para chegar a lado algum. Claro que viver de apps não é só desvantagens. Facilitam-nos a vida, aumentam a produtividade e dão-nos mais tempo para outras coisas. O lado obscuro é que nos conduzem a uma interação social comandada por algoritmos, autómata e despersonalizada. É que as máquinas não sorriem nem choram. E os humanos precisam disso.»
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